Preços em áreas cruciais para o dia a dia do brasileiro como transporte, alimentação, vestuário e construção civil devem ter elevação, agravando a pressão inflacionária dos últimos meses.
O preço médio de venda de gasolina para as distribuidoras passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro. Para o diesel, o preço médio de venda da Petrobras passará de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro.
O valor cobrado nos postos depende de impostos e das margens de lucro dos distribuidores e revendedores.
“O que vai acontecer basicamente é que as pessoas vão ter uma vida mais cara, porque vai ficar mais caro se deslocar”, diz Juliana Inhaz, professora no Insper
Simão Silber, professor de economia na USP e pesquisador da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), avalia que “hoje, não só no Brasil, houve um retorno para um fenômeno que ocorreu nos anos 1970 que ficou conhecido como ‘estagflação’: uma inflação mais alta e um nível de produção mais baixo com o aumento de custos”.
A alta do petróleo no mundo é atribuída em grande parte à Guerra na Ucrânia. Medidas como as sanções dos Estados Unidos e da União Europeia contra o petróleo e o gás exportados pela Rússia tendem a reduzir a quantidade desses produtos no mercado internacional e a aumentar preços. A Rússia é o segundo maior produtor e exportador de petróleo do mundo.
A Petrobras importa petróleo e derivados e repassa reajustes por conta da política de Preço de Paridade de Importação, adotada em 2016.
O aumento dos combustíveis tem impacto limitado no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), medida usada para acompanhar tendências de inflação para o consumidor, mas tem significativa influência sobre o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), que registra variações em produtos agropecuários e industriais antes de atingir a ponta final.
Veja abaixo como os reajustes para as distribuidoras podem se traduzir em aumentos em quatro setores do dia a dia dos brasileiros.
Transportes
O efeito mais direto ocorre, naturalmente, nos preços dos fretes rodoviários, passagens de ônibus urbanos e interestaduais, de avião e da viagem em aplicativos de transporte — além do valor gasto pelos motoristas de carros de passeio para encher os tanques.
Silber, da USP e da Fipe, diz que mesmo que os valores de passagens de ônibus, por exemplo, não tiverem aumento por regulação municipal, o impacto vem.
“Nós estaremos pagando porque a prefeitura terá que subsidiar o transporte urbano, colocar mais dinheiro nesse setor em vez de outras áreas ou atividades”, analisa.
Alimentação
“O custo de tudo que a gente consome que necessita de deslocamento também vai aumentar. Estamos, por exemplo, falando de alimentos. Vai ficar mais caro distribuir, mandar o alimento de um lado para outro. Logo, o custo agregado do produto sobe, o custo para o produto chegar à mesa do trabalhador”, afirma Inhaz.
“O setor de alimentação é bem sensível a esses aumentos de preço de combustível.”
Outra influência indireta em produtos de primeira necessidade como arroz, feijão e carne se deve ao fato de que muitos fertilizantes e defensivos agrícolas são derivados do petróleo.
“Já na hora de plantar se sente essa influência”, diz Silber. A produção agrícola deverá ser ajustada a essas novas condições.
“Porque o produtor vai economizar no uso do fertilizante. O insumo ficou mais caro e aí a produtividade cai. Mais uma razão pela qual o preço vai subir e prejudicar uma parcela muito grande da população que já enfrenta uma enorme insegurança alimentar”, afirma.
Ele também aponta que custos com armazenamento, quando algum produto necessita tratamento especial para calor ou iluminação, também sofrem impacto.
Vestuário
Enquanto Juliana Inhaz aponta a influência dos custos de logística para o deslocamento de produtos do vestuário, Silber menciona algumas matérias-primas que podem impactar alguns itens específicos.
“Por exemplo, o náilon é petróleo. E veja a meia-calça. Com o frio, cresceu a demanda pelo produto, que não tem produção no Brasil. O fio é derivado do petróleo e a sua produção tem sido impactada pela Guerra da Ucrânia”, diz o economista da USP e da Fipe.
Construção civil
Material de construção como tijolos e areia dependem muito dos transportes e podem ser influenciados pela subida nos custos de deslocamento, diz Silber.
Ele também lembra que esse setor já vem sendo pressionado pelo aumento dos juros pelo Banco Central, medida utilizada para conter tendências inflacionárias.
Fonte: bbc.com