Em 2024, as condições climáticas mudaram as expectativas para o setor, e as estimativas de safra diminuem a cada novo número divulgado
Após o recorde de 15,1% no ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) da agropecuária acumula evolução de 39% nos últimos dez anos.
O PIB geral subiu 5,5% nesse período.
A taxa de 2023 supera a de 2014, quando o crescimento agrícola havia atingido 14,2%.
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Apesar de a agropecuária ter registrado queda anual em dois desses últimos dez anos, o crescimento médio anual do setor é de 3,35%, bem superior ao 0,53% do PIB médio do país.
O ano passado foi um período fora da curva. Clima favorável, produtividade boa e, como resultado, uma safra recorde, superior a 315 milhões de toneladas, na avaliação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Para a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra ficou em 320 milhões de toneladas.
Em 2024, no entanto, as condições climáticas mudaram as expectativas para o setor, e as estimativas de safra diminuem a cada novo número divulgado.
Com boa parte da safra ainda no campo para ser colhida, a soja deverá ter produção próxima de 145 milhões de toneladas, um volume ainda elevado, mas abaixo do recorde de 2023.
O milho, cuja safrinha já está sendo semeada, também não volta aos patamares de produção do ano passado. Preços, clima e incertezas do mercado levam o produtor a avaliar melhor os investimentos na cultura.
Quanto menos investimento em tecnologia na produção, maior a chance de uma produtividade menor.
Tudo isso vai afetar a taxa do PIB do setor deste ano, principalmente porque os parâmetros de comparação vão ser bastante elevados.
O desempenho das safras, principalmente as do primeiro semestre, vão determinar um rumo para o PIB da agropecuária.
Os produtos de maior importância no setor agrícola foram os que tiveram os melhores desempenhos, injetando força à taxa. A safra de soja subiu para 152 milhões de toneladas; a de milho, para 131 milhões, e a da cana-de açúcar, para 713 milhões, segundo o IBGE.
Todas essas culturas tiveram uma boa evolução no rendimento, em 2023, devido ao clima favorável nos momentos de maior desenvolvimento da cultura. A produtividade média da soja subiu 18%; a do milho, 14%, e a da cana, 12%.
A pecuária também cooperou para essa evolução, principalmente no final do ano, quando os abates de bovinos superaram em 20% os do último trimestre de 2022.
Com isso, o aumento dessa carne foi de 18% no período, segundo o IBGE, elevando a oferta interna e permitindo ao país atingir patamares recordes nas exportações.
Apesar dessa evolução do PIB da agropecuária, a oferta de produtos básicos não acompanhou esse bom desempenho. O arroz ocupou uma das menores áreas de plantio da história do país, e a produção do cereal recuou 3,5%.
A safra de feijão caiu 4,1%; a de trigo despencou 23%, e a captação de leite não evolui satisfatoriamente.
Acrescenta-se a essa lista o desempenho ruim dos laranjais, afetados por doenças, como o greening, e por efeitos climáticos. O resultado foi uma queda de 7,4% no volume produzido e uma retração de 6% no rendimento da safra.
O setor cafeeiro, outra atividade importante na produção agrícola, teve alta de 16% na produção de café do tipo arábica, o principal do país. Já a produção do tipo robusta caiu 5%, conforme dados do IBGE.
O papel da agropecuária no PIB fica evidente na análise dos últimos dez anos. Em 2012/13, o país produzia 189 milhões de toneladas de grãos, volume que chegou a 320 milhões na safra 2022/23, conforme dados da Conab.
O aumento do volume produzido no período foi de 69%, impulsionado basicamente por soja e milho. A safra de soja saiu de 82 milhões de toneladas, em 2012/13, para 155 milhões no ano passado. A de milho evoluiu do mesmo patamar para 132 milhões.
O bom momento da agropecuária em 2023 permitiu que o primeiro trimestre daquele ano superasse em 22,9% a taxa de igual período de 2022. A evolução acumulada durante o ano foi diminuindo, recuando para 15,1% no final de 2023.
O desempenho da agropecuária no ano passado fez com que o setor elevasse sua participação no PIB para 7,1%, após ter sido reduzida para 6,7% em 2022. O pico dessa participação ocorreu em 2021, quando chegou a 7,7%.
Nas contas do IBGE, a agropecuária adicionou R$ 678 bilhões ao PIB no ano passado, acima dos R$ 581 bilhões de 2022.