Procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan anunciou neste domingo (29/10) que a corte investiga violações relacionadas aos atentados terroristas cometidos pelo Hamas contra Israel, além de analisar eventos em Gaza e Cisjordânia até 2014.
Khan esteve na passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, de onde gravou um pronunciamento em que afirma que a obstrução do envio de mantimentos a civis na Faixa de Gaza pode caracterizar um crime de guerra. Mais cedo, em Cairo, ele declarou que Israel deve fazer “esforços discerníveis” para assegurar o acesso de civis a alimentos e medicamentos.
“Não deve haver nenhum impedimento a ajuda humanitária direcionada a civis. Eles são inocentes”, reiterou em uma mensagem publicada no X, antigo Twitter.
Pressão internacional em meio à escalada da crise em Gaza
Pela manhã, as Nações Unidas (ONU) informaram que armazéns e centros de distribuição mantidos pela organização em Gaza foram invadidos por pessoas em busca de comida.
Em meio à crescente pressão internacional, Israel anunciou que permitiria a entrada de mais ajuda humanitária no território nos próximos dias e a abertura de uma segunda linha de abastecimento de água que havia sido fechada no início do conflito.
Ao fazer o comunicado, um porta-voz militar do país negou, contudo, que haja escassez de comida e medicamentos, alegando que os suprimentos estão sendo controlados pelo Hamas.
Também no domingo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tendo ressaltado o direito de Israel à autodefesa de “maneira consistente com as leis internacionais humanitárias, priorizando a proteção de civis” e a necessidade de “aumentar imediatamente o fluxo de assistência humanitária para atender as necessidades de civis em Gaza”.
Biden enviou uma mensagem semelhante ao Egito, opondo-se a um eventual deslocamento de palestinos, que preocupa o país.
Mais cedo, outro emissário da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que o fato de o Hamas usar civis como escudo humano “não diminui a responsabilidade deles [Israel] perante a lei internacional de fazer tudo ao alcance deles para proteger civis”.
À noite, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (braço da Cruz Vermelha) afirmou que suas equipes em Gaza receberam 24 caminhões em suprimentos pela passagem de Rafah. À a agência de notícias Associated Press, um oficial egípcio informou que 33 veículos carregados de mantimentos adentraram o território.
Brasil convoca nova reunião do Conselho de Segurança
Na última sexta, em meio a relatos de deterioração da situação humanitária em Gaza, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, por ampla maioria, uma resolução não-vinculativa em que pede uma “trégua humanitária imediata” para garantir a assistência de civis palestinos sitiados no enclave.
O gesto foi recebido com indignação pela diplomacia israelense, que criticou a ausência de uma condenação ao Hamas. Horas depois, Gaza ficou sem sinal de internet e telefonia – o sinal começou a ser reestabelecido neste domingo –, e militares ampliaram a investida contra o Hamas, expandindo as “operações terrestres” e inaugurando a “segunda fase” do que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chamou de “guerra de independência” pela existência de Israel.
No domingo, militares teriam despejado panfletos sobre Gaza instruindo a civis sobre como “se render”. “Líderes do Hamas estão te explorando”, consta do texto em árabe. “Eles e suas famílias estão em locais seguros enquanto você morre em vão.”
No apagar das luzes de sua presidência no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil tenta negociar uma outra resolução – esta, com caráter vinculativo – para a crise em Gaza, convocando nova reunião de emergência do conselho para a tarde de segunda-feira, informou o colunista Jamil Chade, do UOL. Esforços anteriores nesse sentido foram vetados por Estados Unidos e Rússia.
Preocupação internacional com situação humanitária em Gaza
Bombas têm chovido sobre o enclave desde que Israel declarou guerra ao Hamas e impôs um rígido cerco em resposta aos atos terroristas de 7 de outubro, quando membros do grupo radical islâmico que controla o território palestino massacraram cerca de 1.400 pessoas e sequestraram outras mais de 200.
Também Israel se encontra sob fogo constante desde então, mas tem conseguido interceptar boa parte dos ataques – que têm partido não só de Gaza, mas também da fronteira com o Líbano e a Síria.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) têm apelado a civis para que deixem “temporariamente” o norte de Gaza, local onde os militares têm concentrado suas operações. A inteligência isralense alega que o Hamas tem sabotado esses esforços, enquanto alguns moradores ignoram os apelos alegando não ter nenhum lugar seguro para onde ir.
Parte buscou abrigo em hospitais, como o Al-Quds, cujas imediações foram bombardeadas neste domingo, segundo relatos. Equipes médicas permaneceram no local sob o argumento de não ter como transferir pacientes em situação delicada.
Israel diz que o Hamas se esconde atrás de infraestrutura civil e usa inocentes deliberadamente como escudo humano. O grupo mantém uma extensa rede de túneis no subsolo de Gaza e é acusado de desviar apoio humanitário à região em benefício próprio.
No lado palestino o conflito fez até agora, segundo informações das autoridades em Gaza, mais de 8.000 vítimas – esses dados não podem ser verificados de forma independente.
Judeus e palestinos têm sido alvo de animosidades desde a eclosão do conflito
Na Cisjordânia, veículos locais informam que tem havido confronto entre judeus ali assentados e palestinos. Líder de ultradireita e ministro do Interior de Israel, Itamar Ben-Gvir tem acenado com armas gratuitas a israelenses que vivem na região e em áreas de fronteira. Um israelense foi preso preventivamente pelas autoridades na noite de sábado, segundo o Times of Israel, sob a suspeita de cometer atentados contra palestinos.
Na Rússia, na região do Daguestão, veículos locais informaram que o aeroporto de Makhachkala foi fechado por policiais após uma multidão tentar invadir um avião vindo de Tel Aviv enquanto proferia palavras de ordem com teor antissemita.
Três milhões de pessoas vivem no Daguestão, a maioria muçulmana, mas a região abriga cerca de 400 famílias judias, que agora cogitam se mudar.
Fonte: dw.com