Fui um adolescente que cresceu acompanhando religiosamente o site Ego. Deixava o computador de mesa ligado e, entre um afazer ou outro, dava F5 na página em busca de uma notícia quentinha de alguma subcelebridade. À noite, especialmente às quartas-feiras, a televisão do meu quarto já estava à espera do “Superpop”, pegando o finalzinho do telejornal da emissora que, potencialmente, estava à beira do traço.
Presenciei a ascensão de Andressa Urach, acompanhei em tempo quase real os flagras da inesquecível Peladona de Congonhas, vi de perto – no sentido mais figurado possível! – a saga em torno da reconstrução do hímen de Ângela Bismarchi, li em uma risada ofegante a carta aberta divulgada por Mulher Maçã para lamentar a morte do criador da Apple, ‘Esteve’ Jobs (sim, foi com essa grafia que o e-mail chegou nas redações de todo o Brasil), e assisti ao vivo Felipeh Campos chamando Agnaldo Timóteo de “gay assumido” na frente do futuro presidente Jair Bolsonaro.
As subcelebridades do Brasil do final dos anos 2000 ao começo da década de 2010 nos presentearam com enredos insuperáveis, de uma criatividade que a atual geração de personalidades da mídia não foi capaz de acompanhar. Reforço que uso o termo subcelebridade com o maior carinho possível, como alguém que relembra com saudosismo as manchetes que lia à época
E foi esse saudosismo que me causou certo desânimo ao acompanhar a revelação do elenco de “A Fazenda 15”. Não subestimo a capacidade destes novos peões de criarem enredos excelentes lá dentro. O ponto é, justamente, que a gente vai precisar de um tempo para descobrir o que eles têm a oferecer.
A antiga geração de subcelebridades se expunha tanto, a ponto de a gente já ter um excelente spoiler do que viria no programa. Elas já chegavam com enredos, que poderiam ganhar deliciosos plot twists ao longo da edição. E vindo de um tempo em que spoiler era autorizado e até movimentava milhões com revistinhas com resumo de novelas, afirmo sem medo que isso dava ainda mais vontade de ver o reality show.
Ainda não entendeu? Gretchen entrou em “A Fazenda” oito meses depois do vazamento de uma foto em que ela aparece como garçonete em uma lanchonete nos Estados Unidos, algo que ela jura de pé junto até hoje ser registro de um comercial. Tínhamos um Brasil ávido por ver a Rainha do Bumbum supostamente falida lutando pelo prêmio milionário. Urach foi para o reality dois meses depois de ser ameaçada por Cristiano Ronaldo. E lá foi o público acompanhar o programa em busca de uma conversa de varanda que revelasse mais detalhes do caso. E como esquecer quando a emissora juntou Joana Machado e Dani Bolina, duas ex de Adriano Imperador?
Valorizo todo o esforço do diretor Rodrigo Carelli em garimpar personagens interessantes e até fugir do óbvio com este novo elenco, mas uma coisa está fora do controle da Record: não se faz mais subcelebridades como antigamente.
Chega a ser desanimador pensar que os destaques dessa edição estão em evidência apenas por uma mamada fake em um clipe ou por forjar uma briga com alguém que não teve nenhuma relação em troca de manchetes. Ainda tem um ator ex-prestigiado que luta para limpar sua imagem e que, provavelmente, usaria o prêmio para quitar sua dívida de centenas de milhares de reais em pensão alimentícia.
Atribuo a dois fatores o estado das atuais personalidades da mídia do Brasil. Em primeiro lugar, claro, a ascensão das redes sociais. As pessoas se expõem cada vez mais, no entanto, essa exposição é meticulosamente calculada com um objetivo muitíssimo específico. Não existe mais aquele topa-tudo por manchete gratuito, que não visava nada além de virar um personagem de um site de celebridades.
Do joguinho de azar que vai arrancar as últimas economias de algum desavisado a um produto capilar de procedência duvidosa, passando, claro, pela plataforma de conteúdo adulto, todo mundo quer te vender alguma coisa e faturar o seu e, no meio disso, lá estão os factóides, que ajudam a elevar os números do engajamento que serão entregues à próxima empresa. Um bom exemplo é a irmã de uma influenciadora famosa, que, dizem as péssimas línguas, forja escândalos e se mete em tretas das quais nada tem a ver porque, assim, mais pessoas vão visualizar seus stories.
Estão errados por quererem ganhar dinheiro? Jamais (dependendo da forma, até estão, mas esse papo fica para outro dia). Mas as personalidades da mídia atual parecem ter perdido a fluidez característica daquelas que costumávamos acompanhar nas décadas anteriores. Os flagras completamente armados de uma mulher-fruta pagando peitinho na praia em 2008 ainda soavam muito mais espontâneos.
O segundo fator (e que minha chefe não leia isso) é o fim do site Ego. Claro que a queda na popularidade do “Superpop”, do “TV Fama” e de outros produtos da RedeTV, que praticamente moldaram a personalidade dos criadores de memes estáticos do Twitter, também contribuiu para este cenário, mas o encerramento das atividades deste portal foi um baque irreparável na cultura do subcelebritismo no Brasil.
Mea-culpa total. Mas o Ego foi único e nenhum veículo o substituiu. Era tipo BBB, virava assunto e todo mundo se divertia, mas, por preconceito, muita gente criticava. E não esqueçamos um grande feito: desconstruiu o estereótipo de perfeição que os atores globais criaram nos anos 2000. Ele cumpria com excelência seu papel, sendo porta-voz de personalidades que levavam muito a sério a busca pela fama, mas que não se levavam a sério. E isso era delicioso!
No mais, sigo ansioso pelo início de “A Fazenda 15“. Reforço, mais uma vez, que não duvido da capacidade do novo elenco de entregar o famoso entretenimento. Algumas personalidades ali me intrigaram já de cara e me deixaram ávido por descobrir mais sobre elas. Mas que falta a “crocância” de uma irmã Minerato ou de uma ex-dançarina de um grupo de axé one hit wonder… Ah, isso falta!
Fonte: purepeople.com.br