Na manhã de terça-feira (15/08), uma interrupção no fornecimento de energia elétrica afetou vários estados e o Distrito Federal, deixando um terço dos consumidores brasileiros sem luz e provocando caos no transporte público e no trânsito em diversas cidades, além de também ter afetado o funcionamento de órgãos públicos.
Mais tarde, falando a jornalistas, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, informou que entre 27 milhões e 29 milhões de endereços foram afetados de alguma maneira pelo incidente.
A falta de luz começou às 8h31 (horário de Brasília) e o abastecimento só foi totalmente normalizado mais de seis horas depois, perto das 15h, segundo informações do próprio ministério. Até o fim da tarde, a imprensa brasileira ainda noticiava, contudo, falta de energia no Amapá e em Santa Catarina.
Apurações
Segundo Silveira, o episódio estaria associado a uma “sobrecarga” em uma linha de transmissão no Ceará, no Nordeste do país, operada pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), uma subsidiária da Eletrobras, que foi privatizada no ano passado.
O ministro, contudo, já havia descartado que o apagão pudesse estar relacionado à privatização da companhia. Silveira também argumentou que o evento, sozinho, não justificaria a magnitude do apagão, e disse que pedirá à Polícia Federal e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que investiguem eventual ação humana. Silveira também citou “outro evento” em local ainda não identificado.
“Tenho absoluta convicção de que o ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico], até pela sua característica técnica, não vai ter condição de dizer textualmente se esses eventos foram eminentemente técnicos, ou se houve também falha humana ou até dolo”, disse o ministro, lembrando que o setor é altamente estratégico, sensível e fundamental para a sociedade brasileira.
Por determinação do ministro, o episódio está sob apuração de um grupo integrado por representantes do ministério, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Sobrecarga
O governo sabe que houve na manhã de terça-feira uma sobrecarga em uma linha de transmissão de energia no Ceará, levando o sistema ao colapso nas regiões Norte e Nordeste.
Quando isso ocorreu, o ONS modulou a carga que estava sendo enviada para o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste, como forma de proteção, o que fez com que a energia fosse reduzida nessas regiões.
Com o incidente, o órgão realizou uma “ação controlada” – ou seja, proposital – visando evitar que o problema na rede se espalhasse.
“Houve pelo menos 16 mil MW de interrupção de energia. A interrupção no Sul e no Sudeste foi uma ação controlada para evitar propagação da ocorrência”, diz o ONS.
Na prática, ocorreu uma “separação elétrica” do sistema interligado, e as regiões Norte e Nordeste do país foram desconectadas do Sul e Sudeste.
“Foi um fato que causou a interrupção nas regiões Norte e Nordeste e, por uma contingência planejada do ONS, minimizou a carga das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, para que não houvesse a interrupção total dessas regiões”, completou o ministro.
Segundo evento
Segundo o ministro, o ONS ainda vai avaliar se houve outro evento no mesmo horário, em outro local do país. “O único evento que se pode afirmar é esse no Ceará. Ainda não há outro evento apontado pelo ONS, mas leva-se a presumir que tivemos um segundo evento que causou esse evento dessa magnitude”, disse Silveira.
O ministro ressaltou que o país trabalha com um sistema de energia redundante e, para que tenha havido uma interrupção dessa magnitude, devem ter ocorrido dois eventos ao mesmo tempo. Silveira citou os casos de ataques a torres de transmissão de energia registrados em janeiro deste ano.
Impactos do blecaute
A interrupção no fornecimento de energia elétrica na manhã de terça-feira causou uma série de transtornos para a população.
Conforme o portal de notícias G1, houve registros de paralisações em linhas do metrô nas cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Salvador. Na capital baiana, passageiros tiveram que sair dos vagões em que viajavam, caminhando sobre os trilhos.
Algumas municipalidades também relataram interrupção no fornecimento de água. Em Alagoas, pelo menos 77 municípios apresentaram falhas no serviço. No Pará e no Amapá também foram relatados déficits no abastecimento.
Algumas cidades apresentaram confusão no tráfego de automóveis e engarrafamentos por causa de semáforos que deixaram de funcionar. Ocorrências do tipo foram relatadas nos estados de Alagoas, Amapá, Piauí, Ceará, Pará, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.
Em algumas localizações, escolas interromperam suas aulas, mandando os alunos para casa mais cedo.
Alguns hospitais e clínicas tiveram que suspender determinadas consultas, e comerciantes registraram prejuízo devido à falta de eletricidade.
Fonte: dw.com