Rússia diz nunca ter usado esse tipo de armamento em guerra, mas relatórios da ONU e investigações da CNN mostram o contrário
A Rússia tem um estoque de bombas de fragmentação e vai considerar usá-las contra a Ucrânia “se forem usadas contra nós”, disse o presidente Vladimir Putin.
Os comentários de Putin foram feitos poucos dias depois que a Ucrânia recebeu uma entrega de munições cluster fabricadas nos Estados Unidos, embora um alto oficial militar ucraniano tenha dito à CNN que elas ainda não haviam sido usadas.
“A Rússia tem um suprimento suficiente de vários tipos de bombas de fragmentação”, disse o líder russo durante uma entrevista a um jornalista pró-Kremlin.
“Se forem usados contra nós, nos reservamos o direito de espelhar ações.”
A decisão de Washington de enviar bombas de fragmentação para Kiev foi controversa e criticada por grupos de direitos humanos.
As armas são particularmente perigosas para civis e não combatentes quando disparadas perto de áreas povoadas porque espalham material explosivo, os chamados “bomblets”, em grandes áreas. Aqueles que não explodem com o impacto podem detonar anos depois, representando um risco de longo prazo para quem os encontra, semelhante às minas terrestres.
O que são munições cluster?
As bombas de fragmentação contêm vários explosivos que são lançados sobre uma área do tamanho de vários campos de futebol. Eles podem ser lançados de um avião, do solo ou do mar.
O perigo representado pelas armas de fragmentação levou mais de 100 países — incluindo Reino Unido, França e Alemanha — a assinar um tratado proibindo seu uso.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse à CNN que a decisão de enviar bombas de fragmentação para a Ucrânia foi “muito difícil”, mas ele optou por fazê-lo porque Kiev precisa de mais munição para continuar sua luta para expulsar as tropas russas do território ucraniano.
Um alto funcionário do Departamento de Defesa dos EUA disse que Kiev deu “garantias por escrito” de que não usaria esse tipo de armamento em áreas urbanas.
Em sua entrevista, Putin disse que o governo Biden chamou o uso de bombas de fragmentação de crime de guerra e que ele concordou com essa avaliação.
Não está claro exatamente a quais comentários Putin se referia, mas a ex-secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse no ano passado, no início do conflito, que os relatos do uso de bombas de fragmentação pela Rússia, se confirmados, constituiriam um crime de guerra.
Putin também afirmou que a Rússia ainda não usou bombas de fragmentação, apesar das evidências mostrarem o contrário.
Em março, as Nações Unidas disseram que compilaram relatórios confiáveis de que as forças russas usaram bombas de fragmentação em áreas povoadas pelo menos 24 vezes. Uma investigação da CNN no ano passado descobriu que o Kremlin disparou 11 foguetes de fragmentação em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, durante os primeiros dias da guerra.
Fonte: cnnbrasil.com.br