O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta quinta-feira (13/07) que o deputado federal Celso Sabino (União-PA) vai assumir o comando do Ministério do Turismo, encerrando uma novela política que se arrastou por semanas.
Ele vai substituir Daniela Carneiro (União-RJ), também conhecida como Daniela do Waguinho, que está à frente da pasta desde o início do governo e que agora deverá retomar seu mandato de deputada federal, após ganhar algumas sobrevidas à frente do ministério enquanto uma negociação com o União Brasil não havia sido concluída. Segundo nota oficial do Planalto, a nomeação de Sabino vai ser oficializada nos próximos dias no Diário Oficial.
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na tarde desta quinta-feira (13) com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e com o deputado federal Celso Sabino (União-PA). O presidente convidou Sabino para o Ministério do Turismo, convite esse que foi aceito pelo deputado. A nomeação sairá no Diário Oficial da União nos próximos dias”, diz a nota.
Sabino recebeu o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e de caciques do Centrão para assumir a pasta. Evangélico e formado em Direito, ele foi eleito para seu primeiro mandato como deputado federal em 2018 pelo PSDB. Ele deixou a legenda em 2021, após se alinhar ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo uma reportagem do jornal O Globo, Sabino foi um dos 30 parlamentares que, em 2022, mais indicou emendas para o orçamento secreto – mecanismo pouco transparente de transferência de recursos públicos para atender a interesses de parlamentares criado em 2020, no segundo ano da gestão Bolsonaro. Aliado de Lira, Sabino distribuiu R$ 27,2 milhões no ano passado.
Ligação com miliciano
Daniela Carneiro se viu envolvida numa polêmica desde o início do seu mandato, quando a imprensa revelou em janeiro a ligação dela com um miliciano condenado por homicídio e associação criminosa. Ela tinha um vínculo político com o ex-PM Juracy Alves Prudêncio, conhecido como Jura e acusado de comandar uma milícia na Baixada Fluminense.
O jornal Folha de S.Paulo mostrou que Carneiro também teve o apoio de Giane Prudêncio, ex-vereadora e esposa do ex-policial durante as campanhas de 2018 e 2022. Em 2018, Carneiro chegou a chamar o miliciano de “liderança”, ao publicar fotos ao lado de Jura e sua esposa nas redes sociais.
Na época, ele já estava condenado e preso. O ex-PM, porém, tinha autorização para deixar a prisão durante a semana para trabalhar. Ele cumpria expediente como assessor na prefeitura de Belford Roxo, cujo prefeito era o marido de Carneiro, Wagner dos Santos Carneiro, conhecido como Waguinho.
Após uma campanha com relatos de intimidação e atuação irregular de policiais, Carneiro foi a deputada mais votada do Rio de Janeiro, recebendo 213.700 votos. Sua indicação para o Ministério do Turismo também se deve a sua participação e a atuação de seu marido, Waguinho, prefeito de Belford Roxo, no segundo turno na campanha de Lula.
Após a revelação do envolvimento de Jura com o grupo político da então ministra, novas ligações controversas de Carneiro vieram à tona. Uma reportagem do jornal O Globo mostrou que outro acusado de integrar uma milícia também fez campanha para ela nas eleições de 2022.
Réu por extorsão e porte ilegal de arma de fogo, Fábio Augusto de Oliveira Brasil, conhecido como Fabinho Varandão, pediu votos para Carneiro em eventos em regiões dominadas por seu grupo paramilitar, incluindo um comício dela.
Na época, ela afirmou que recebeu apoio em vários municípios e destacou que isso não significa compactuar com quem comete ato ilícito.
A queda de Daniela Carneiro
Apesar da polêmica, Daniela Carneiro seguiu no cargo. A sua substituição foi pedida, porém, pelo União Brasil, após ela pedir a desfiliação do partido em abril. O cargo fazia parte da cota da legenda em troca de apoio ao governo. O União Brasil ficou com o comando de três ministérios: Turismo, Comunicações e Desenvolvimento Regional.
Apesar do acordo, o governo tem tido dificuldades para garantir os votos do União Brasil no Congresso. A legenda se declara independente, mesmo fazendo de fato parte do governo com o comando de três ministérios.
Ao pedir a troca da ministra, o União Brasil alegou que ela não fazia parte da bancada do partido e era uma escolha pessoal de Lula, devido ao apoio que ela e seu marido deram ao presidente no segundo turno das eleições no ano passado. A legenda teria dito que a mudança era necessária para entregar votos ao governo.
Fonte: dw.com