Imunizante conseguiu ativar as defesas naturais do organismo contra o vírus em voluntários nos Estados Unidos
Um novo composto candidato a vacina contra a chikungunya apresentou bons resultados em ensaios clínicos randomizados de fase 3, a última etapa de testes antes da submissão do pedido de autorização de uso às autoridades regulatórias, de acordo com um artigo publicado no começo de junho na revista médica The Lancet.
Desenvolvido pela empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva, o imunizante (VLA1553) conseguiu ativar as defesas naturais do organismo contra o vírus em 99% dos indivíduos avaliados. O composto também se mostrou seguro, provocando reações adversas mínimas em uma pequena parcela dos participantes.
A chikungunya é uma doença transmitida pela picada de mosquitos da espécie Aedes aegypti e Aedes albopictus infectados com o vírus de mesmo nome (CHIKV). A infecção costuma causar febre, dores de cabeça, fadiga, náuseas e fortes dores musculares e articulares.
Ainda não existem vacinas contra a doença — cujos sintomas, em alguns casos, podem persistir por longos períodos —, tampouco tratamentos antivirais eficazes. “Essa pode ser a primeira vacina contra a chikungunya disponível para pessoas que vivem em regiões endêmicas ou que visitem essas áreas”, disse em comunicado Martina Schneider, gerente de estratégia clínica da Valneva e autora principal do paper publicado na The Lancet.
O estudo envolveu 4.115 homens e mulheres com mais de 18 anos de idade de diferentes regiões dos Estados Unidos: 3.082 receberam uma dose do VLA1553, os outros 1.033 receberam uma solução inócua (placebo). Todos os participantes foram incluídos na análise de segurança, mas apenas uma parte deles — 266 vacinados e 96 recebendo placebo — participaram da avaliação da capacidade do composto em gerar resposta imune.
De acordo com o estudo, uma única dose do imunizante conseguiu estimular a produção de anticorpos em quantidade ideal para neutralizar o vírus em 263 dos 266 indivíduos imunizados, tanto adultos quanto idosos acima de 65 anos. Passados seis meses da aplicação, a taxa de produção de anticorpos (soroconversão) continuou elevada, sendo detectada em 96,3% dos participantes — os pesquisadores continuarão monitorando a duração da imunidade pelos próximos cinco anos por meio de testes sorológicos.
Esse resultado é importante porque a presença de anticorpos neutralizantes se manteve alta após a vacinação em um ambiente no qual os voluntários não estão em contato constante com o vírus — os Estados Unidos não são uma região endêmica de chikungunya. Segundo os autores do trabalho, a tendência é que a produção de anticorpos seja maior em locais onde a doença é endêmica.
Ensaios clínicos com a vacina também estão em andamento no Brasil, em parceria com o Instituto Butantan. O objetivo é avaliar o imunizante em uma região endêmica da doença, algo fundamental para atestar a real eficácia de um composto candidato. O estudo terá duração de 15 meses e será feito com 750 voluntários, todos adolescentes de 12 a 17 anos.
A médica Kathryn Stephenson, do Centro de Virologia e Pesquisa de Vacinas do Centro Médico Beth Israel Deaconess, nos Estados Unidos, que não participou do estudo na The Lancet, comemorou os resultados dos testes clínicos. No entanto, afirmou em comunicado que “mais estudos em regiões endêmicas e em populações expandidas serão fundamentais para afirmar o valor do imunizante na prevenção da chikungunya, assim como estudos de eficácia em contextos de surtos reais da doença”.
Fonte: ipea.gov.br