Depois do fim da rebelião do Grupo Wagner na Rússia, o presidente Vladimir Putin deu três opções aos combatentes da milícia: ir para Belarus, voltar para casa ou se integrar às forças russas.
Mas o que exatamente aconteceu com os cerca de 20 mil combatentes liderados por Yevgeny Prigozhin “é totalmente desconhecido”, comenta o especialista alemão Nico Lange.
Ele lembra que o grupo dispõe de tanques de infantaria e outros armamentos mais modernos do que o que recentemente se viu em vídeos das Forças Armadas russas.
O ministro russo da Defesa, Serguei Shoigu, e seus comandantes devem estar interessados nessas armas, mas a integração delas nas Forças Armadas pode ser demorada.
O jogo de poder entre Putin, Prigozhin e o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, que mediou o acordo que pôs fim à rebelião, ainda não acabou, analisa o Instituto para o Estudo da Guerra, nos EUA.
Os pesquisadores do instituto avaliam que esse jogo de poder vai continuar tendo consequências de curto e longo prazo que podem beneficiar a Ucrânia.
Mas como a Ucrânia pode se beneficiar da atual situação na Rússia? E quais opções surgiram para o comando das forças ucranianas após a rebelião? Até agora, não se sabe se o motim mudou os planos para a contraofensiva ucraniana, que está em andamento.
Avanços lentos da contraofensiva
Informações divulgadas nas redes sociais, imagens de satélite e declarações das Forças Armadas ucranianas indicam que os combatentes ucranianos conseguiram libertar alguns vilarejos ao longo da linha de combate ao leste da cidade de Zaporijia e ao norte e ao sul deBakhmut.
Mas com frequência aparecem imagens de drones que mostram tanques de infantaria ucranianos retidos em campos minados russos – ou seja, na linha de defesa russa, que ao longo de meses foi sendo fechada com minas terrestres e barreiras de contenção de tanques.
“Claro está que ainda se trabalha no primeiro obstáculo: essa combinação de campos minados e falta de superioridade aérea, e isso parece ser muito problemático”, comenta Lange, referindo-se aos progressos dos militares da Ucrânia.
O analista Brady Africk, do Instituto American Enterprise, em Washington, diz, com base em imagens de satélite, que a Rússia está fortalecendo suas linhas de defesa.
Os mapas atualizados por Africk chamam a atenção para o outro grande evento da guerra em junho: a explosão da barragem de Kakhovka, no início do mês. A Ucrânia culpa a Rússia pela explosão, e a Rússia culpa a Ucrânia.
O colapso da barragem teria sido causado por um explosivo detonado no interior da estrutura pela Rússia, que controla o local, de acordo com um trabalho de investigação do jornal americano The New York Times.
Leito secou
Nesse meio tempo, o reservatório se esvaziou. Fotos compartilhadas no Telegram e no Twitter mostram o leito seco em várias partes. No Facebook, caçadores de tesouros ucranianos compartilham suas experiências na busca de objetos de valor no solo com detectores de metal.
De acordo com um comunicado à imprensa, a Comissão Alemã de Túmulos de Guerra está investigando relatos de que “restos mortais de soldados alemães foram encontrados no sul da Ucrânia e que esses achados estão ligados à destruição da represa de Kakhovka”. A organização protege os restos mortais de vítimas da Segunda Guerra Mundial em toda a Europa e providencia seu sepultamento em cemitérios.
Brecha para o exército ucraniano?
Em mapas antigos da Wehrmacht (forças armadas da Alemanha nazista), podem ser vistas várias estradas históricas que cruzavam o leito posterior do reservatório de Kakhovka, das quais a água aparentemente já foi drenada.
Ex-meteorologista da Força Aérea dos EUA, David Helms estudou a condição do antigo reservatório em imagens de satélite e as justapôs com mapas antigos da Wehrmacht. Helms faz parte de um grupo disperso de apoiadores da Ucrânia que divulgam suas descobertas sob a hashtag #NAFO, especialmente no Twitter. Ele identificou sete estradas no reservatório, agora praticamente vazio, que ainda estavam em uso durante a Segunda Guerra.
Atualmente, ao norte do antigo reservatório e do rio Dnieper, que agora flui em seu leito histórico, está o exército ucraniano e, ao sul, as forças armadas russas.
Surpreendentemente, a oeste da cidade de Vasylivka, controlada pelo exército russo, poucas posições do exército russo são visíveis, pelo menos no mapa do analista norte-americano Brady Africk, apoiado por imagens de satélite.
Parece, pelo menos, uma possibilidade de que uma brecha esteja se abrindo aqui para o exército ucraniano – com muitos imponderáveis, especialmente porque as forças russas sempre podem atacar pelo ar. No entanto, Lange diz ter a impressão, a partir da contraofensiva ucraniana, de que Kiev ainda está guardando a grande surpresa para si mesma.
Fonte: dw.com