Wellaton apontou alto potencial do ecoturismo, etnoturismo e turismo de negócios em Mato Grosso
Há dois meses à frente da Secretária-Adjunta de Turismo, o ex-vereador Felipe Wellaton (Republicanos) reconhece que o setor em Mato Grosso ainda patina. Para fomentar o turismo no Estado, Wellaton defende não apenas as ações governamentais, mas também a conscientização sobre a necessidade de investimento privado.
“Como o Governo do Estado pode ajudar nisso? Com a Desenvolve MT, com créditos subsidiados, com investimento. Então seu papel o Estado está fazendo. Agora, também preciso do investimento privado”, diz ele sobre a melhora na infraestrutra hoteleira.
“A gente tem trabalhado muito numa articulação forte com a Desenvolve MT para buscar crédito, para, inclusive trazer o fundo garantidor e para que quem quiser fazer novos investimentos tenha taxas superfacilitadas”.
Para o secretário, Mato Grosso tem um alto potencial do ecoturismo, etnoturismo e turismo de negócios.
Wellaton falou ainda sobre a concessão do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, a importância da aprovação da “Lei da Pesca” e a necessidade de qualificação de serviços.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – O senhor está 60 dias à frente da Pasta de Turismo. Quais os principais desafios?
Felipe Wellaton – A gente chega com um desafio para tornar as cidades turísticas de Mato Grosso especial ao mato-grossense. O turismo é bom quando é bom para o morador das cidades. E a gente precisa ter essa percepção de cidades melhores para os mato-grossenses.
Eu tenho três clientes. O primeiro deles é o mato-grossense. Aquele que vive aqui, que pode conhecer suas belezas naturais, conhecer melhor o seu Estado, colocar o seu dinheiro para circular aqui. O segundo cliente é o turista de fora, seja ele nacional ou internacional. E o terceiro são os empreendedores, a iniciativa privada.
Preciso de mais investimento em bares e restaurantes, em hotelaria… Circulando mais dinheiro, gero mais investimento, mais emprego, mais renda e melhoro a qualidade de vida e os serviços das cidades.
MidiaNews – Apesar de tantas belezas naturais, o turismo em Mato Grosso ainda é pífio. Entra governo e sai governo e parece que nada é feito. Por que isso ocorre?
Felipe Wellaton – A gente tem que entender que não é um desafio só do Estado de Mato Grosso, mas também do Brasil. O Brasil recebe menos turistas do que muitos países, inclusive da América Latina. A gente precisa entender que o turismo é uma plataforma de desenvolvimento das cidades e também da economia.
Por exemplo, só no turismo de pesca a Argentina recebe 70 mil brasileiros e a gente deixa lá mais de R$ 400 milhões. Sendo que em Mato Grosso temos três bacias hidrográficas com diferentes tipos de peixe. O turismo tem que ser uma política de Estado. E o governador Mauro Mendes vem com essa nova visão.
Sobre a construção das orlas, discutindo a importância do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, com o Parque Novo Mato Grosso, com o autódromo, centro de eventos, serviços. O Estado entende a importância do turismo e vem com uma cadeia forte nesse sentido. E um exemplo disso é a estruturação. Tanto de novos produtos como o turismo de etnia em Campo Novo dos Parecis, o etnoturismo, quanto a diversificação de novos produtos.
Um exemplo é que de julho até novembro, na época da seca, o Pantanal tem em sua hotelaria um grande movimento internacional, que até sobe o tarifário. E é um desafio trazer novos meios de hospedagem para que a gente possa tornar esse valor atrativo para o mato-grossense.
Midianews – No ano passado, 1.953 turistas estrangeiros visitaram Mato Grosso. Não é um número baixo tendo em vista que o Estado tem o Pantanal e parte da Floresta Amazônica?
Felipe Wellaton – Acredito que esse número não é real. Entro na secretaria com um relatório do Observatório de Desenvolvimento do Turismo, e estamos desenvolvendo essa ferramenta, para um mapeamento de dados. Nós vamos provocar a COA [Centro-Oeste Airports], grupo que ganhou a concessão dos aeroportos de Mato Grosso, para a gente ter dados mais assertivos.
MidiaNews – Quais são os produtos turísticos aqui do Estado que acha que merece maior atenção no sentido de promoção fora daqui?
Felipe Wellaton – Sou um apaixonado pelo Estado de Mato Grosso. E escolher um só produto vou ter que dividir no coração, é impossível. Mas posso falar daqueles que têm grande demanda internacional.
Indiscutivelmente, o Pantanal é um deles. O maior felino, a onça pintada, está aqui. Você não consegue ver um felino desse porte, com essa facilidade, como pode ver no Pantanal. Acredito muito no turismo de pesca e o Mauro Mendes vem com uma visão de preservação das bacias dos leitos.
E temos também, no Norte do Estado, o birdwatching que é do avistamento de aves. Este é um mercado que movimenta bilhões. E não deixar de falar de uma demanda que acredito muito que é o etnoturismo. A aldeira de Haliti, em Campo Novo dos Parecis, está extremamente preparada com belezas naturais e cachoeiras com volume d’água incrível. Tem a aldeia Wazari, Quatro Cachoeiras, o Utiariti e você também tem outras etnias que estão se preparando que têm culturas belíssimas, como os Xavantes…
MidiaNews – Muitas pessoas falam que Nobres tem tantas belezas que pode ser comparada a Bonito, no Mato Grosso do Sul. Por que, então, não tem a fama nem o apelo turístico de Bonito?
Felipe Wellaton – A gente tem que entender que Bonito começou na década de 80 e investiu de forma maciça em comunicação. E uma das áreas muito importantes do investimento para a parte do turismo é a comunicação. Não a comunicação de governo, mas sim do Estado. E a gente está muito focado em desenvolver esse produto. Como? São dois pilares que a gente tem que contribuir para o desenvolvimento de Nobres.
O primeiro deles é o licenciamento de mais atrativos turísticos. A gente tem muitas cavernas, grutas, lagoas fechadas, ou em áreas de assentamento. Para você ter ideia, toda aquela região de Nobres, que é conhecida como pontos turísticos, é o assentamento do Coqueiral. Ela tem duas vilas, Vila Roda d’Água e Vila Bom Jardim. Essas duas vilas que fazem o receptivo dos atrativos e são elas que recebem os turistas.
Então, de uma forma bem direta, a gente precisa estruturar novos produtos turísticos e também trazer mais serviços: hotelaria, restaurantes, para a gente aumentar o tempo de permanência do turista em Nobres.
MidiaNews – Como?
Felipe Wellaton – Nobres tem mais de 140 atrativos regulamentados. E quando se fala em Nobres ainda temos muitos atrativos que estão em áreas privadas que precisa de uma cessão ao Estado, como aconteceu com a Lagoa Azul. Lá é uma área de assentamento e a gente tem algumas questões burocráticas para vencer. Agora que a gente tem muitas belezas, é incrível.
MidiaNews – Uma das brigas do governador Mauro Mendes é para controlar o parque de Chapada dos Guimarães. A queixa dele é de que haveria pouco investimento da empresa que venceu a licitação. O turismo em Chapada corre risco caso o Governo não consiga reverter a situação?
Felipe Wellaton – Acredito que a concessão do Parque Nacional é um bom caminho, assim como aconteceu em outros parques, como a Chapada dos Veadeiros e o Parque Nacional das Cataratas em Foz do Iguaçu. Mas acredito que é muito pouco o investimento que a ParqueTur (empresa concessionária) ofereceu. São R$ 18 milhões em 30 anos. Só em atrativos, em menos de cinco anos, a empresa recupera esse investimento.
O Governo do Estado vem com uma proposta de investir R$ 200 milhões e o Mauro e o vice-governador Otaviano Pivetta são entusiastas de Chapada dos Guimarães. Acredito que nesse pacote de obras o governo tem mais força para trazer intervenção ao turismo, e quando falo intervenção é investimento, criar modelos de rota para o turismo com acessibilidade.
Acredito muito nesse modelo e acredito que o governo de estado seria o melhor investidor dessa área, porque ninguém colocaria tanto investimento, mas a gente tem que aguardar esse processo no Tribunal de Contas da União.
MidiaNews – Uma das queixas do turista que vem a Mato Grosso é a má qualidade do serviço, que é um problema histórico aqui. Como acha que a gente pode resolver o problema? É só com investimento?
Felipe Wellaton – Não. A gente acredita na qualificação e temos conversado com diversas entidades e no segundo semestre a gente começa um plano de qualificação junto com as entidades parceiras e a gente tem que trazer o setor privado junto. O Estado não faz sozinho.
Como eu digo, o Estado faz infraestrutura, prepara atrativos, dá publicidade, e dá essa condição para fazer acontecer. Mas quem presta o serviço, quem hospeda, quem alimenta, quem recebe, quem transporta, é o privado.
MidiaNews – Têm alguma meta a respeito de números de turistas?
Felipe Wellaton – O que a gente tem feito neste momento é o levantamento de dados para saber a real situação que estamos. A gente está na construção de toda a parte orçamentária para os próximos quatro anos e a gente entrega essa peça agora no segundo semestre. A gente quer medir a evolução do turismo.
Um dos meios é o aumento de CNAE [Cadastro Nacional de Atividade Empresarial] da hotelaria, o aumento de números de leitos. A quantidade de voos. E é um desafio a internacionalização do Aeroporto Marechal Rondon, que fica em Várzea Grande. É uma grande luta do secretário Mauro Carvalho, da Casa Civil, que acredita na internacionalização do aeroporto para a atração de mais turistas. E a gente acredita sim que nos próximos três anos a gente vai conseguir medir o aumento do número de turistas, o aumento de leitos da hotelaria e também a entrega de novos atrativos turísticos.
Um exemplo é que nessa semana foram depositados R$ 8 milhões na conta da Prefeitura de Vila Bela da Santíssima Trindade para a construção do Congódromo. Ou seja, o turismo de experiência, da Festa do Congo, o turismo dos povos originários. Isso é fundamental para preservar a cultura e para desenvolver a cidade. Mas para isso a gente tem um desafio gigantesco que não depende só do público, a gente precisa provocar o privado para fazer pousadas, restaurantes, abrir suas casas, fazer trança no cabelo, vender canjinjim…
MidiaNews – Por causa da Copa do Mundo houve grande investimento em hotelaria em Cuiabá, apesar dos alertas de que poderia haver um excesso de vagas. Depois do Mundial, o setor enfrentou uma crise que foi agravada com a pandemia. Tem um diagnóstico de como está o setor hoteleiro de Cuiabá neste momento?
Felipe Wellaton – O setor apresenta um aquecimento novamente e a gente acabou de voltar da Embratur e os dados que a gente vê de Mato Grosso é de um turismo muito voltado ao turismo de negócios. Mato Grosso é um estado pujante e a gente percebe isso na ocupação dos leitos. Você percebe que em poucos eventos, como por exemplo, shows regionais e feiras de negócios a gente tem capacidade máxima desses leitos e esse é o desafio: aumentar a capacidade para receber o turista. É por isso a importância da formatação de produtos.
MidiaNews – Formatar produtos?
Felipe Wellaton – Chapada dos Guimarães, Nobres, Malai, Alta Floresta, Sinop, parques, trecho da BR-163, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Campo Novo dos Paracis, o turismo de pesca… Por exemplo, quando você vai para um restaurante, olha o cardápio, da mesma forma é o turismo. Você quer saber quantos dias vai precisar, quanto vai gastar e qual é o tempo para reservar. Por isso, o Governo está fazendo o maior investimento em aeroportos das cidades de Mato Grosso.
São R$ 60 milhões conveniados. É muito recurso. Agora a gente precisa transformar esses aeroportos em um tarifário aéreo mais atrativo para que a gente consiga rodar nesse Estado que é um gigante, que tem o tamanho de uma vez e meia da França, ou três Itália.
MidiaNews – Como que a gente pode baratear esse turismo?
Felipe Wellaton – Eu vou parafrasear o governador Mauro Mendes: “Quem define isso é o mercado, é a lei da oferta e da procura”. A gente tem que entender que o Nordeste tem um turismo de escala. Grandes redes da Espanha, de Portugal, construíram resorts e muitos leitos, mas não tem uma diversificação da economia como temos aqui. A gente tem um agronegócio, a gente tem o turismo, a gente tem outros setores de serviço e isso não acontece no Nordeste. Eles vivem do turismo.
A grande questão é que o Governo de Mato Grosso, neste momento, olha também para o turismo e entende que a gente precisa aumentar o número de investimento para essas áreas. Como? Escalando serviços.
Por que uma pousada no Pantanal é mais cara quanto ir para a praia? Porque temos ainda poucos leitos em comparativo com o setor hoteleiro do Nordeste. Para isso a gente tem que ter mais investimento em hoteleira. Para isso preciso do privado.
Como o Governo do Estado pode ajudar nisso? Com a Desenvolve MT, com créditos subsidiados, com investimento. Então seu papel o Estado está fazendo. Agora, também preciso do investimento privado.
MidiaNews – Cuiabá tem um problema que é a falta de voos diretos da maioria das grandes cidades brasileiras, o que também é um impeditivo para o desenvolvimento do turismo. Não seria interessante o Governo fazer gestões junto às companhias para elevar essa quantidade de voos diretos?
Felipe Wellaton – Nós temos trazido várias companhias, inclusive, a Azul Linhas Aéreas, que é uma das companhias que tem a maior cobertura no território brasileiro. A gente tem estudado maneiras de como o governo pode criar linhas, como já existe, de incentivo para essas companhias, quanto de subsídio para que a gente possa entender o melhor mecanismo para um tarifário mais barato. Mas de uma forma muito clara, a gente precisa de demanda.
MidiaNews – E como criar essa demanda?
Felipe Wellaton – É com volume de comunicação, de investimento, de publicidade. E a gente acredita muito no novo posicionamento de Mato Grosso, mostrando esse turismo, tanto para o Mato Grosso quanto para fora.
MidiaNews – Recentemente, o Governo apresentou um projeto de lei que restringe a pesca em Mato Grosso. Um dos objetivos é fomentar a pesca esportiva. Acha que será possível incrementar essa atividade no Estado?
Felipe Wellaton – Tenho certeza que com essa lei a gente pode aumentar o número de serviços e principalmente de receita para as cidades. É uma lei que envolve, naturalmente, uma batalha, porque estamos falando da cultura do povo ribeirinho, mas acredito muito na economia sustentável e sair do modelo extrativista.
Um dos exemplos disso, é comparar as cidades que vivem hoje da pesca, como Juciara e São Félix da Araguaia. O Governo do Estado está fazendo investimento em uma orla em mais de R$ 10 milhões. A gente está falando de investimento de festivais de praia, de pesca, e todo um recurso movimentando essa cidade o ano inteiro.
A gente tem falado de pousadas dentro da cidade de Cuiabá, Rio Cuiabá acima, ali no Sucuri, com a pesca do dourado. Acredito que vai abrir os rios para toda a população, para o turista. E a gente também tem que ser criativo nas novas formas de como utilizar o rio. Enfim, vai mudar o modelo. Acredito que a gente tem toda uma condição de criar novos produtos e chegar num estágio de evolução no turismo da pesca esportiva.
MidiaNews – Há alguma estimativa de quantos turistas pescadores Mato Grosso pode receber por anos?
Felipe Wellaton – Primeiro, estamos fazendo o mapeamento do número de pousadas. O que a gente entende é que hoje tenho um aumento expressivo do número da hotelaria da pesca, na divisa com Tocantins, que é a Bacia Araguaia-Tocantins, e o aumento de pesca, inclusive, nas pousadas do Norte do Estado, no Rio Teles Pires, na Bacia Amazônica.
A gente acredita que esse número pode aumentar aqui na Baixada Cuiabana, em cidades que o turista se afastou desses rios, como a cidade de Barão de Melgaço, Santo Antônio, que há uma quantidade grande de tablados, contudo não há um turismo de pesca como essas outras cidades que eu tenho citado. Acredito que a gente vai viver um momento de crescimento dessas cidades na pesca esportiva.
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Fonte: midianews.com.b