A pressão em cima do Santos esta ficando cada vez maior. Na última terça-feira, o clube perdeu por 2 a 1 para o Newell’s Old Boys, na Vila Belmiro, pela Sul-Americana, e, com isso, chegou ao sétimo jogo consecutivo sem vitória. Em meio a este cenário, a torcida começou a demonstrar a sua insatisfação com protestos.
Após o jogo, os jogadores do Peixe estavam visivelmente abalados e passaram em silêncio pela zona mista. Questionado sobre como recuperar os atletas psicologicamente, o técnico Odair Hellmann destacou que esta não é sua função e que “não há psicologia que vai resolver o problema”, o que vai solucionar é o trabalho dentro de campo.
A Gazeta Esportiva conversou com o Dr. João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte e do Exercício e que atua na área da psicologia do esporte há 32 anos. O profissional destacou a importância de trabalhar a parte mental dos jogadores.
“A psicologia no futebol é imprescindível. Ela é a base, ou deveria ser, da preparação esportiva, que tem de um lado a preparação técnica, do outro a tática é a base é a preparação psicológica. Não adianta ter jogadores com corpos de aço e base de barro, como dizia Nelson Rodrigues. Trabalhar a mente dos jogadores ajuda demais dentro de campo”, disse à reportagem.
Cozac também apontou os impactos negativos da falta de um acompanhamento psicológico.
“As consequências são equipes sem o senso bem desenvolvido de liderança, equipes que tendem a ficar mais nervosas e emocionalmente desequilibradas e, consequentemente, começam a cometer falhas individuais e coletivas por conta dos conteúdos emocionais e tendem a ter quedas de concentração, o que pode vulnerabilizar a equipe em jogos importantes”, declarou.
O psicólogo, que soma passagens por Corinthians, Palmeiras e Cruzeiro, rebateu a fala de Odair Hellmann sobre a participação dos treinadores no trabalho mental do elenco. Segundo o doutor, é de suma importância que os comandantes participem do processo.
“Os treinadores devem participar do processo psicológico, deve existir um projeto multidisciplinar de trabalho psicológico no esporte. O psicólogo deve ser mais um profissional da comissão técnica. Ele é um profissional como um nutricionista, médico, fisioterapeuta e fisiologista. No futebol brasileiro, infelizmente ainda se sabe pouco desta ciência”, comentou.
“Em momentos de pressão, sem dúvida nenhuma o emocional é mais exigido e as equipes que têm trabalhos psicológicos presentes, estimulados e acolhidos pela comissão técnica, tendem a ajudar mais nos momentos em que há mais pressão. Os jogadores precisam desenvolver um sentido de resiliência, força interna e procurar a manutenção do equilíbrio psicológico e emocional. Nestes momentos de protestos de torcida, é muito importante ter o auxílio para os jogadores”, ampliou.
Por fim, João Ricardo Cozac destacou que “a psicologia não faz milagres”, mas voltou a salientar a importância de ter profissionais da área no dia a dia do clube para, a longo prazo, obter resultados importantes dentro e fora de campo.
“A psicologia não faz milagre, ela não é um pronto-socorro, um corpo de bombeiros, ela precisa ser trabalhada de forma contínua em seu formato de prevenção e promoção de saúde mental. A psicologia não vai salvar o Santos neste momento. O Santos vive um conjunto de erros que vêm sendo somados há muito tempo. Erros na forma de avaliação do trabalho das comissões técnicas, em formatos administrativos e erros na forma de condução de trabalho no dia a dia dos atletas. A psicologia sozinha não resolve o problema, mas é preciso estar incluída no cotidiano”, finalizou.
No momento, o Santos tem como psicóloga Juliane Fechio, que possui graduação em Psicologia e Educação Física, pós-graduação em Psicologia do Esporte e mestrado em Psicologia Experimental.
Fonte: www.gazetaesportiva.com