Um dos mais cobiçados técnicos sul-americanos, ele estreia pelo time que queria dirigir
Jorge Sampaoli, 63, o novo técnico do Flamengo, é contraditório. Um dos mais importantes treinadores formados na Argentina nas últimas décadas, naufragou no comando da sua seleção. Tem a capacidade de tirar mais do que o esperado dos jogadores, mas é obcecado em pedir que empregadores gastem fortunas em reforços.
Em suas passagens pelos clubes brasileiros, antes de ser chegar à Gávea, fez questão de levar seus cachorros, mas quase nada falava com os funcionários dos centros de treinamento. Contrário a dar entrevistas, começou a aparecer mais na mídia quando passou a ter o projeto de dirigir o Flamengo, o que aconteceu agora.
Ele estreou na equipe rubro-negra na quarta-feira (19), em partida contra o Ñublense (CHI), pela segunda rodada da fase de grupos da Libertadores.
“Ele não queria sair daqui de jeito nenhum. Tivemos quase que expulsá-lo da cidade para que fosse atrás do sonho de ser técnico”, disse à Folha em 2017 Maria Luisa Sampaoli, irmã de Jorge.
“Daqui” é Casilda, cidade de 35 mil habitantes próxima a Rosário, na província de Santa Fe. Ele havia recebido, em 2002, convite para dirigir o Juan Aurich (PER). Tinha tanta certeza do fracasso que levou pouca roupa na bagagem. Nunca voltou a morar no município.
Sampaoli já havia construído a fama de obsessivo e atento a todos os detalhes. Ao ser expulso em partida como técnico do Belgrano de Arequito, time da Liga Casildense, não se conformou. Saiu do campo, subiu em uma árvore fora do estádio e continuou berrando instruções para os atletas. A foto, publicada em jornais nacionais, fez o público pela primeira vez ver a imagem do treinador.
Ele jamais comandou uma equipe profissional em seu país. Fez fama com a Universidad de Chile campeã da Copa Sul-Americana de 2011. Foi quando chamou a atenção pelo futebol ofensivo, de saídas rápidas e velocidade, fotocópia do seu maior ídolo: Marcelo Bielsa. Ao substituí-lo na seleção, conquistou o que era até então o maior título chileno. Foi campeão da Copa América de 2015.
Sua escolha para salvar a Argentina nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018 foi bem recebida pela torcida local, mas criticada por nomes históricos.
“Se Jorge Sampaoli é a solução, precisamos fechar e reconstruir a escola de técnicos da Argentina”, queixou-se Carlos Bilardo, campeão mundial de 1986.
Para cumprir a profecia que fez quando trabalhava na agência do Banco Província (“um dia vou ser o técnico da seleção argentina”, disse), no centro de Casilda, deixou o Sevilla (ESP). Parecia destinado a fazer Messi realizar o sonho de ser campeão do mundo.
Foi um desastre. Sampaoli foi totalmente subserviente ao seu principal jogador, chegando a consultá-lo sobre substituição, escalou-o como falso 9 contra a França, não conseguiu definir um estilo de jogo, brigou com seu auxiliar Sebastián Beccacece no meio do Mundial e o time caiu nas oitavas de final.
Não que o resultado ruim o tenha feito baixar a crista. Quase levou a diretoria do Santos à loucura quando aceitou dirigir a equipe, em 2019.
Pediu que o presidente José Carlos Peres fretasse um avião para levar seus cachorros para a Baixada Santista. A solicitação foi negada. Mas quando decidiu que a mansão em um bairro nobre da cidade não lhe servia depois de dois meses, o clube pagou a multa para levá-lo a outro apartamento. Sampaoli alegou ter medo que seus caães se afogassem na piscina.
Foi na Vila Belmiro que mostrou parte do seu melhor e do seu pior. Levou um elenco limitado tecnicamente ao vice-campeonato brasileiro daquele ano. Fez Jean Mota jogar como se fosse Lionel Messi meses depois de fazer Lionel Messi jogar como se fosse Jean Mota.
Sampaoli não permitia que o time feminino do Santos treinasse no mesmo campo do masculino no CT para não “estragar” o gramado. Também pediu reforços caros e que pouco usou, como o centroavante Uribe. O clube pagou US$ 7 milhões (R$ 34,8 milhões em valores atuais) pelo peruano Christian Cueva. Foi um fiasco. Saiu no final de 2019 porque o clube não quis dar-lhe (até porque não tinha) R$ 100 milhões para novos reforços.
Foi para o Atlético Mineiro em 2020 para repetir o que mostrou no Santos. Fazer a equipe apresentar bom futebol, pedir contratações sem parar e não conversar com nenhum funcionário do clube fora do seu círculo de pessoas próximas. A diretoria contratou 14 reforços ao custo aproximado de R$ 200 milhões e ganhou o Campeonato Mineiro.
Ao deixar Minas Gerais, começou a se insinuar para o Flamengo, dar indicações de que aceitaria o cargo e até aparecer em programas de televisão. Antes disso, ele questionava assessores de imprensa dos clubes para indagar se realmente era necessário dar entrevistas.
Fonte: diariodecuiaba.com.br
Sua trajetória na Europa foi irregular e sem títulos. Quando abandonou o Sevilla em 2017, estava na 5ª posição do Espanhol. Causou ira nos torcedores ao voltar para a América do Sul. No Olympique de Marselha (FRA), saiu no meio do contrato, em 2022, por divergências com a direção por causa de dinheiro para contratações, um velho tema. De volta ao Sevilla, foi demitido em fevereiro de 2023 por causa dos maus resultados.