Ao contrário de certos políticos brasileiros, que só se preocupam com seus interesses familiares e eleitorais de curto prazo, há entre dirigentes chineses os que sabem distinguir dificuldades conjunturais de objetivos nacionais de longo prazo. O forte discurso contra a presença crescente da China na economia brasileira e mundial, que marcou os primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro, afetou de algum modo a disposição do governo e de empresas chinesas de investir no Brasil. A pandemia, que reduziu drasticamente a atividade econômica em todo o mundo, fez escassear ainda mais os investimentos chineses no exterior, e no Brasil em particular. Mas as oportunidades de inversões de volumes expressivos no País nunca deixaram de ser avaliadas pelos responsáveis pelas ações econômicas chinesas no exterior.
O novo cenário econômico mundial, com a gradual retomada da normalidade da produção, circulação e consumo de bens e serviços, reacende a busca de oportunidades de investimentos ao redor do planeta. A perspectiva de mudança no quadro político nacional em menos de um ano se junta a fatores globais para recolocar o Brasil entre os focos em exame na China. O setor de infraestrutura volta a merecer estudos e projetos de investimentos chineses, como apurou o Estadão/Broadcast. Provavelmente, volumes financeiros serão mais modestos e as escolhas, bem mais seletivas, pois a economia chinesa não deverá voltar a registrar taxas de crescimento tão expressivas como as que apresentou nas últimas décadas. Ainda assim, serão investimentos volumosos.
Principal mercado de destino dos produtos brasileiros de exportação, a China concentra sua atenção na cadeia logística do País, para garantir o escoamento eficiente de produtos agrícolas e minerais que importa em grandes volumes. Há também atenção para assegurar o funcionamento mais eficiente de grandes empresas chinesas que operam no País, sobretudo no comércio eletrônico.
Entre 2007 e 2020, os investimentos chineses no Brasil somaram US$ 66,1 bilhões. Em 2020, ficaram em US$ 1,9 bilhão, o menor valor desde 2014, por causa da pandemia. Projetos que interessam à China incluem portos, concessões rodoviárias, ferrovias, programas de mobilidade urbana, além de energia, iluminação pública e petróleo e gás (o setor de energia concentra 48% dos investimentos chineses no Brasil; o petrolífero, 28%). É provável que a maior parte das decisões seja tomada depois da eleição presidencial de outubro.
A China investe significativamente também na Argentina, da qual se tornou o principal fornecedor, superando o Brasil. No país vizinho e sócio do Brasil no Mercosul, o interesse chinês também é assegurar produção e movimentação adequada de bens que a China importa em volumes crescentes. A viagem do presidente Alberto Fernández para a abertura da Olimpíada de Inverno de Pequim é sinal claro do interesse do governo argentino no fortalecimento dessa parceria. O governo brasileiro, certamente o próximo, precisará prestar mais atenção nessa aproximação sino-argentina.
Fonte: msn.com