Taxa é mantida pelo Banco Central desde junho do ano passado e alvo de fortes críticas do Palácio do Planalto
O Comitê de Políticas Econômicas do Banco Central (Copom) decidiu nesta quarta-feira (22) em manter a taxa básica de juros em 13,75%, o maior patamar desde novembro de 2016. Essa é a sexta vez em que o BC mantém a Selic na atual porcentagem.
A decisão de manter a taxa juros em patamares altos acontece em meio à pressão do Palácio do Planalto para que o BC reduza drasticamente a Selic. As críticas da cúpula petista não surtiram efeito neste momento, mas podem impactar na próxima.
“O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos”, disse o Copom.
“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, alfinetou o Copom, em resposta aos ataques do governo ao Banco Central e as decisões monetárias do comitê.
“A recente reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo. Por outro lado, a conjuntura, marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária”, completa o BC
O estrategista-chefe da Nomos, Rodrigo Correa, afirma que ainda não há ações do governo para segurar a inflação e, por isso, a Selic não pode ser reduzida. Correa ainda lembra dos gastos do governo, que pressionam o índice inflacionário.
“O fato é que toda essa taxa de juros alta que temos hoje, conseguimos domar a inflação que estava em dois dígitos. Mas as últimas leituras da inflação são mistas e existe uma tendência de reaceleração da inflação, por isso, do ponto de vista técnico, não existe espaço para reduzir os juros”, explica.
O Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, têm sido alvo de críticas por parte da cúpula petista, principalmente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para o Palácio do Planalto, os juros estão “extremamente elevados” e não condizem com a realidade brasileira.
Além de Lula, a deputada federal Gleisi Hoffman e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, também criticaram as ações do BC. O último a tecer críticas à Selic foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que classificou a taxa básica de juros, a Selic, como “exageradamente elevada”. Para Haddad, há espaços para corte nos juros.
“O Brasil está em uma situação favorável em relação aos seus vizinhos e ao resto do mundo. Nós não temos problemas geopolíticos, como a Ásia e a Europa, nossa inflação está mais controlada que no resto do mundo. Nossa taxa de juros está exageradamente elevada, o que significa espaço para cortes, num momento em que a economia brasileira pode e deve decolar”, disse Haddad em seminário do BNDES na última terça-feira (22).
Fonte: economia.ig.com.br