Yasemin Astan, seu marido, Hasan, e seus cinco filhos conseguiram escapar de sua casa em Antakya, na província de Hatay, no sul da Turquia, antes dela ter sido destruída pelo terremoto que devastou a região em 6 de fevereiro e deixou mais de 46 mil mortos. Agora, ela vive em uma barraca.
Dois dias depois a tragédia que atingiu a Turquia e a Síria, acampamentos foram montadas para abrigar os sobreviventes que perderam as casas. No entanto, as condições de higiene nestes locais preocupam as vítimas.
“Foi colocado um banheiro químico do outro lado da rua. Mas é quase impossível ver qualquer coisa de noite e é muito difícil de andar. Como posso deixar minhas crianças sozinhas aqui e andar toda essa distância no escuro para ir ao banheiro?”, pontua Astan.
A família de Astan divide a barraca com outros sobreviventes. Ao todo, 13 pessoas moram nela, incluindo nove crianças, apesar do pouco espaço. Além das críticas aos esforços oficiais para prevenir os danos causados por terremotos, os turcos afirmam que a resposta do governo à tragédia é inadequada.
Desde o terremoto, muitos dos sobreviventes tiveram que renunciar ao banho. Mas esse não é o maior problema dos residentes do abrigo temporário. O pior, segundo eles, é a falta de banheiros adequados.
Lixo e vazamento de banheiro
Além da falta de banheiros, o lixo se acumula em todos os cantos do acampamento montado para abrigar os sobreviventes. Um funcionário do Ministério da Família e Serviço Social da Turquia relatou à DW que ligou para cidades distantes, como Nevsehir e Konya, para solicitar ajuda.
“Pedi que mandassem pelo menos um contêiner para que o lixo não se acumule por onde as pessoas andam. E, claro, há o grande perigo de propagação de doenças infecciosas”, relata.
O funcionário mostra, então, um banheiro químico que está cheio e começou a vazar. “Tudo neste banheiro vaza. Ele é o único em toda a área, embora tenhamos pedido às autoridades pelo menos 25”, acrescenta.
À noite, a cidade multicultural, que outrora foi agitada, fica deserta. Apenas soldados são vistos nos bairros completamente destruídos. “Alguns foram evacuados da cidade. Outros ficaram em Hatay porque esperam por funerais ou não têm nenhum lugar para ir”, conta um voluntário de uma organização de ajuda humanitária.
Embora sobreviventes ainda estejam sendo encontrados vivos sob os escombros depois de todo esse tempo, as autoridades mudaram o foco do trabalho, que agora está concentrado na limpeza da região. Com isso, as ruas estão cobertas de poeira e sujeira.
Propagação de doenças
Devido à grande quantidade de poeira gerada durante a remoção dos escombros, a população deveria usar máscaras para a proteção, mas nas ruas quase ninguém faz uso delas. Um voluntário da província de Sakarya afirma que as condições de higiene são tão ruins, tornando impossível a recuperação de qualquer pessoa.
A Associação Médica Turca montou um contêiner na cidade vizinha de Defne para atender os sobreviventes e doar roupas e medicamentos. “Estou aqui há seis dias. Nós nos lavamos com lenços umedecidos pois não há como tomar banho”, conta um médico que pediu para não ter o nome divulgado.
Outro médico relata que o esgoto foi direcionado para o rio Asi, trazendo riscos à saúde pública. “Há banheiros, mas eles não estão limpos e, portanto, são uma fonte potencial de infecção. É muito triste, mas está começando a acontecer o que todos temíamos aqui: infecções, diarreia e febre. A água da região precisa ser tratada logo.”
O médico conta que mais de 100 pacientes dos pelo menos 250 que atendeu tinham alguma doença infecciosa. “Observamos o aumento de doenças ginecológicas, como infecções bacterianas e fúngicas. O motivo é que ninguém aqui pode tomar banho”, acrescenta. Ele relata ainda que crianças estão sofrendo de diarreia e já há casos de irritações na pele devido ao uso da mesma roupa por dias.
Pacientes com câncer que procuram ajuda são mandados de volta, pois não há os medicamentos adequados para tratá-los, conta o médico.
Frio torna a situação mais complicada
Muitos dos resgatados dos escombros têm que lutar com um outro problema: o frio. Um médico relata que muitos sobreviventes morreram de hipotermia nos dois dias depois do terremoto.
“Havia dois soldados com a perna quebrada. A ortopedia era meio longe e não havia macas para transportá-los para lá. Rasguei uma cortina para cobrir os dois. Foi buscar algo e voltei correndo, mas eles morreram nesse meio tempo. Morreram de hipotermia”, conta o médico que estava trabalhando na emergência pediátrica de um hospital em Hatay no dia do terremoto.
A situação é ainda mais preocupante em vilarejos da região. Integrantes de um grupo que coopera com o Crescente Vermelho turco estiveram em vilas perto de Kirikhan. Apesar dos poucos danos estruturais, esses locais enfrentam escassez de alimentos e medicamentos, principalmente para crianças. “Mesmo se tivéssemos remédios, precisaríamos de ajuda para distribuí-los. Estamos diante de um grande problema organizacional”, diz um voluntário.
Apesar dos relatos, o ministro da Saúde turco, Fahrettin Koca, afirma que o sistema de saúde na região atingida está funcionado e que medidas para prevenir a propagação de doenças foram tomadas, como o envio de vacinas contra tétano e raiva. O ministro destacou também que farmácias móveis estão funcionando nestas regiões e que os vilarejos ainda têm acesso a cuidados de saúde. “Nossos centros de saúde estão ajudando a fornecer produtos de higiene”, acrescentou.
Fonte: dw.com