O Parlamento Europeu aprovou nesta quinta-feira (19/01) uma resolução que condena os ataques bolsonaristas aos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro.
Em uma resolução não vinculante aprovada por 319 votos a favor, 46 contra e 74 abstenções, os eurodeputados também pediram explicitamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores a “aceitarem o resultado democrático das eleições” de outubro de 2022.
O texto, proposto por eurodeputados dos grupos A Esquerda, Verts/ALE, Renew, ECR e S&D, ainda expressa “solidariedade ao presidente eleito democraticamente Lula da Silva, seu governo e instituições brasileiras” e “condena nos termos mais veementes as ações criminosas perpetradas por partidários do ex-presidente Bolsonaro”.
“O fato de a resolução ter sido adotada pela grande maioria significa um sinal forte de solidariedade e de como condenamos veementemente os ataques feitos por apoiadores de Bolsonaro em Brasília”, declarou à DW Brasil a eurodeputada alemã Anna Cavazzini, autora do pedido de debate para aprovar a resolução.
O documento aprovado pelo Parlamento Europeu também manifesta apoio a uma investigação rápida, imparcial, adequada e eficaz para identificar, processar e responsabilizar todos os envolvidos na violência de 8 de janeiro. A lista, segundo os eurodeputados, deve incluir “instigadores, organizadores e financiadores, bem como instituições estatais que falharam em prevenir esses ataques”.
“Infelizmente [a invasão] não foi uma grande surpresa. Bolsonaro preparou isso nos últimos seis meses, ou mais, com toda essa narrativa sobre eleições roubadas e incitando seus seguidores a não aceitarem os resultados. Foi surpreendente o quanto o evento e as imagens se assemelham à invasão do Capitólio, nos Estados Unidos”, disse Cavazzin, fazendo referência ao ataque de 6 de janeiro de 2021, quando a sede do Congresso dos EUA foi invadida e depredada por uma turba de apoiadores do ex-presidente Donald Trump.
No texto, os eurodeputados também avaliam que os ataques violentos em Brasília fazem parte de um fenômeno global coordenado por movimentos de extrema direita. Segundo a resolução, Trump e Jair Bolsonaro teriam desempenhado um papel fundamental nos eventos.
Democracias ameaçadas
O documento ainda reconhece uma conexão entre os eventos violentos em Brasília e Washington com um crescente “fascismo transnacional” e com racismo e extremismo. O texto também traça um paralelo com os eventos em Brasília e um plano de tomada violenta do Bundestag (Parlamento da Alemanha) que foi desbaratado pela polícia em dezembro de 2022 também faria parte desse contexto.
“Nós estamos prontos para defender nossas democracias. No Brasil, na Europa, em todo mundo. Não aceitamos essa tentativa da extrema direita de minar nossa sociedade democrática. Queríamos enviar um sinal claro aqui da Europa pois sabemos que o governo [Lula] foi democraticamente eleito e que a comunidade internacional está com ele”, disse Cavazzini.
Segundo os autores da resolução adotada pelo Parlamento Europeu, as plataformas de mídia social contribuem para esse cenário. Elas são acusadas de permitir a difusão de campanhas antidemocráticas, fascismo transnacional e extremismo por meio de algoritmos que promovem discursos de ódio e desinformação.
Um levantamento feito pela organização Sum Of Us obtido pela DW Brasil apontou que transmissões ao vivo feitas naquele 8 de janeiro tiveram duração de mais de quatro horas em plataformas como YouTube e rapidamente se espalharam por mídias sociais como Facebook, Twitter, TikTok e Telegram.
Mensagens, vídeos e fotos amplamente divulgados glorificando os ataques e pedindo mais atos em todo o país seguiram disponíveis por horas sem qualquer intervenção do Google, afirmam os pesquisadores, mesmo após uma ordem judicial para que esse tipo de conteúdo fosse removido.
Brasil como aliado importante
Anna Cavazzini disse esperar que Lula tenha tranquilidade para governar após os ataques violentos e que os anos de isolamento internacional do Brasil sob Bolsonaro tenham chegado ao fim.
“Esperamos por uma cooperação próxima, restabelecer a boa relação que sempre tivemos tradicionalmente. O Brasil é um dos aliados mais importantes do mundo, a maior democracia da América Latina. Nós dividimos valores e objetivos. Com o governo Lula tudo pode ser fortalecido de novo”, diz Cavazzini à DW Brasil.
Fonte: dw.com
(DW, AFP)