Estudos relevantes sobre várias questões, como obesidade, sono e câncer, foram destaques ao longo do ano
Se 2022 foi um ano em que muitas doenças para além da Covid-19 chamaram a nossa atenção, também foi um período em que cientistas de todo o mundo fizeram descobertas relevantes sobre várias questões, como o controle da obesidade e até mesmo envolvendo o coronavírus.
Uma delas aconteceu em janeiro. Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apontou que o exercício físico regular também está associado ao aumento da resposta imunológica à vacina contra a Covid-19.
É sabido que a resposta do sistema imunológico à vacina cai ao longo do tempo. Entender qual é o tempo que a proteção dura no nosso corpo é um dos principais desafios dos pesquisadores de todo o mundo, até porque outros estudos mostram que o número de anticorpos diminui com o passar dos meses.
Em novembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a venda em farmácias do medicamento Paxlovid, que pode ser utilizado no tratamento da Covid-19.
O medicamento tem o objetivo de preservar o organismo e impedir a evolução e o agravamento da doença. A indicação de uso é para adultos que não precisam de oxigênio suplementar, e que apresentam risco aumentado de agravamento da doença como pessoas não vacinadas, idosos ou imunossuprimidos.
Avanço na investigação de Alzheimer
Não há dúvidas de que o cérebro é um dos maiores desafios da ciência. O surgimento de doenças, o avanço de algumas síndromes e como o nosso corpo reage aos diferentes estímulos têm sido estudados com resultados promissores.
A doença de Alzheimer, por exemplo, continua sendo um dos principais alvos de pesquisas. Um estudo da UTHealth Houston, dos Estados Unidos, em junho, apontou que pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina contra a gripe tiveram 40% menos probabilidade de desenvolver a doença.
Uma pesquisa em andamento, que deve ser concluída no ano que vem, avalia se a vacinação está associada à taxa de progressão dos sintomas de quem já tem Alzheimer.
A doença é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal que é caracterizado pela deterioração cognitiva e da memória. Os sintomas incluem o comprometimento progressivo das atividades cotidianas e uma variedade de manifestações neuropsiquiátricas e de alterações comportamentais.
O nosso cérebro
Um grande estudo com adultos com mais de 65 anos revelou que pessoas que andam cerca de 5% mais devagar a cada ano, ao mesmo tempo que exibem sinais de processamento mental mais lento, têm maior probabilidade de desenvolver demência.
O levantamento, publicado no final do mês de maio na revista online JAMA Network Open, reforçou uma tese de pesquisadores norte-americanos de que a demência tem íntima relação com a velocidade do nosso caminhar. A mudança na marcha é um dos ‘sintomas’ analisados por neurologistas quando há suspeita de demência, que pode se manifestar de diversas formas.
Já em outubro, um grupo de pesquisadores da Universidade de Basel, na Suíça, divulgou o resultado de um trabalho interessante: acariciar um cachorro de verdade (em comparação a um de pelúcia) ativa uma parte importante do cérebro, o córtex frontal.
O estudo aponta que a parte do cérebro responsável pela supervisão do que pensamos e sentimos é estimulada quando se faz carinho em um animal, e é mais um argumento de que as terapias feitas com participação de bichos de estimação, de fato, produzem efeitos positivos.
Descobertas sobre o câncer
Outro objeto de estudo frequente nas pesquisas médicas, o tratamento de câncer também mereceu destaque no noticiário de saúde em 2022.
A colonoscopia, que pode detectar e prevenir o câncer colorretal, e que é um procedimento incômodo, pode ser superestimada. Um estudo, feito por integrantes da Universidade de Oslo, na Noruega, marcou a primeira vez que as colonoscopias foram comparadas diretamente com a ausência de rastreamento de câncer em um estudo randomizado.
Os resultados apontaram benefícios escassos para o grupo de pessoas convidadas a fazer o procedimento: um risco 18% menor de contrair câncer colorretal e nenhuma redução significativa no risco de morte por câncer. Os achados foram publicados no The New England Journal of Medicine em outubro.
Cientistas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais, avançaram no desenvolvimento de tecnologias para o diagnóstico do câncer de mama e de próstata.
Um método desenvolvido pelas pesquisadoras da UFU, chamado biópsia líquida, permite a realização do diagnóstico do câncer de mama de forma menos invasiva que em outros exames. Os resultados do método foram publicados no periódico científico International Journal of Molecular Sciences.
Em outra pesquisa, especialistas buscam desenvolver um teste de biópsia líquida para o câncer de próstata, capaz de detectar a presença do tumor por meio do sangue. A pesquisa se concentra neste momento na identificação de qual proteína da membrana da célula tumoral circulante presente no sangue dos pacientes se liga à molécula utilizada nos testes.
Em relação ao câncer de pele, as farmacêuticas Moderna e MSD anunciaram que a fase 2 de testes de uma vacina, aliada a imunoterapia, demonstrou uma redução de 44% no risco de recidiva da doença ou morte em pacientes com melanoma de estágios III ou IV.
O imunizante utiliza a mesma tecnologia da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela empresa – o uso de RNA mensageiro (RNAm).
Pesquisas curiosas
Alguma vez você já deve ter ouvido de uma pessoa que é frequentemente atacada por pernilongos que ela tem ‘o sangue mais doce’ ou é preferida pelos insetos. Saiba que elas não estão erradas, pelo menos parcialmente.
Uma pesquisa feita na Rockefeller University, em Nova York, mostra que os pernilongos tem certa ‘predileção’ por algumas pessoas. O motivo? A composição da nossa gordura corporal – chamada oficialmente de sebo. Os resultados foram publicados em outubro.
Os cientistas examinaram a pele daqueles que eram os ‘ímãs’ dos pernilongos e encontraram 50 compostos moleculares que eram mais altos nesses participantes do que nos outros. Um deles é o ácido carboxílico, que cria uma barreira e ajuda a manter a pele hidratada. O calor do corpo e o dióxido de carbono que liberamos quando respiramos também atraem pernilongos para os humanos.
Agora, se você gosta de um cafezinho, mas sempre fica apertado para ir ao banheiro, leia com atenção: em algumas pessoas o café acelera os movimentos intestinais.
Foi o que descobriu um trabalho feito por pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos, em um estudo divulgado em abril.
E o levantamento constatou o que outros estudos já haviam apontado: beber café era mais eficaz do que água morna na indução de movimentos intestinais – isso significa algo, já que a água é parte integrante da digestão normal, com grandes quantidades sendo liberadas e reabsorvidas pelo trato digestivo todos os dias.
Nesse caso, não importa se o café é descafeinado ou não. O estudo não apontou mudança significativa nos resultados.
Perda de peso e luta contra a obesidade
Várias notícias marcaram esses temas tão delicados para muitas pessoas no Brasil e no mundo, e cientistas fizeram vários levantamentos sobre como o excesso de peso pode afetar todas as faixas etárias.
Mulheres grávidas que foram expostas a produtos da cannabis que continham tetra-hidrocarbinol (THC) e canabidiol (CBD) – componentes da maconha – eram mais propensas a ter filhos com aumento da massa de gordura e níveis de açúcar no sangue aos cinco anos, apontou um estudo feito em abril pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos.
O levantamento de dados também trouxe índices alarmantes: o Ministério da Saúde, com base em dados de 2019 (pré-pandemia, portanto), apontou que 10% das crianças de até 5 anos estão com excesso de peso, sendo que 7% com sobrepeso e 3% já em estágio de obesidade no Brasil.
O cenário de excesso de peso em crianças no Brasil cresceu em três pontos percentuais entre 2006 e 2019. Em todo o mundo, segundo o Atlas Mundial da Obesidade, publicado em maio, um bilhão de pessoas viverão obesas até 2030.
Uma pesquisa feita na Nova Zelândia, publicada em março na revista JAMA Pediatrics, apontou que adolescentes que eram obesos, fumavam ou tiveram distúrbios psicológicos, envelheciam mais rapidamente que os colegas. Foram selecionadas 910 pessoas nascidas entre 1972 e 1973.
Aos 45 anos de idade, o novo estudo indicou que os participantes que tiveram, quando eram adolescentes, dois ou mais desses três problemas gerais de saúde – tabagismo, obesidade ou distúrbios psicológicos – andavam 11,2 centímetros por segundo mais devagar, tinham uma idade cerebral mais avançada em dois anos e meio, e tinham uma idade facial mais avançada por quase quatro anos do que aqueles que não tiveram esses problemas.
A obesidade na adolescência não foi o único estudo feito pensando nos jovens. Também conduzido pelo Ministério da Saúde, o sistema Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) apontou que, nos últimos 15 anos, a taxa de excesso de peso dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos aumentou de 20,65%, em 2006, para 35,71%, em 2021.
Se muita gente pensa que o ganho de peso acontece pelo excesso de comida, um estudo feito no Brigham and Women’s Hospital de Boston, nos Estados Unidos, publicado em junho, mostrou que o horário em que são feitas as refeições pode fazer toda a diferença nisso. Comer no final do dia dobrará as chances de ter mais fome, como muita gente já sabe.
A busca por medicamentos que possam ‘resolver’ a obesidade ainda continua, apesar de parecer uma certa utopia. Uma dose semanal de um medicamento recentemente aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência semelhante à Anvisa dos Estados Unidos, para tratar diabetes tipo 2 pode ajudar adultos que não tem a doença a perder peso também, segundo um estudo publicado em junho.
O tirzepatide, que é vendido sob a marca Mounjaro, foi estudado em pessoas sem diabetes em três dosagens: 5, 10 e 15 miligramas. Os participantes com obesidade ou que estavam acima do peso e tomaram a dose de 5 miligramas perderam uma média de 16 quilos, aqueles na dose de 10 miligramas perderam uma média de 22 kg e os participantes na dose de 15 miligramas perderam uma média de 23,6 kg. Outros estudos ainda continuam para verificar possíveis efeitos colaterais.
Enquanto isso, em julho, a Anvisa proibiu a comercialização, distribuição, fabricação e propaganda dos suplementos alimentares Lipotramina e Lipozepina, vendidos irregularmente como emagrecedores. O órgão afirmou que a proibição e recolhimento específico dos dois produtos foi motivada pela continuidade da propaganda irregular dos compostos, que não têm aprovação da agência para alegar a função de emagrecimento. A empresa disse que jamais fabricou suplementos alimentares ‘fora dos padrões’.
Essa busca incessante por remédios que possam ajudar na obesidade vem de mãos dadas a outra pesquisa, divulgada em abril, pelo Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais dos Estados Unidos, que aponta que o mais importante é analisar a taxa metabólica basal e uma dieta mais equilibrada do que apenas exercícios físicos.
Já em agosto, um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontou que a gastroplastia endoscópica, um procedimento não cirúrgico e menos invasivo do que a cirurgia bariátrica, apresentou eficácia de 87,5% para a perda de peso sustentada. O procedimento é indicado para pacientes com obesidade leve a moderada, com índice de massa corporal (IMC) maior que 30kg/m². O risco de complicações também é menor.
Sono e obesidade intimamente ligados?
Em fevereiro, um estudo realizado pela Universidade de Medicina de Chicago e a Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, mostrou que, no grupo de 80 adultos com sobrepeso, os períodos de maior queima de calorias aconteciam quando eles dormiam mais de 6h30 por noite. O levantamento comprova o que os médicos orientam: dormir o chamado ‘sono reparador’ ajuda a controlar o relógio biológico do corpo.
A propósito, foi divulgado um estudo em abril que mostra que dormir menos de seis horas por dia não afeta apenas o peso, mas também ajuda a criar placas que são prejudiciais às artérias.
Foi o que apontou o Centro de Pesquisa em Nutrição Humana Jean Mayer, na Universidade de Tufts, nos Estados Unidos. O aumento da placa, chamado aterosclerose, nas extremidades aumenta o risco de derrames, problemas digestivos e má circulação que leva a dormência e dor nas extremidades, bem como doenças cardíacas.
Nessa tentativa de busca pelo sono ‘perfeito’, muitas pessoas começaram a usar melatonina – popularmente conhecido como hormônio do sono – sem receita. Mas uma publicação na revista médica JAMA levantou um alerta: alguns deles podem estar usando a substância em níveis perigosamente altos. Em 2018, os americanos estavam consumindo mais que o dobro da quantidade de melatonina que utilizavam uma década antes.
A melatonina tem sido associada a dor de cabeça, tontura, náusea, cólicas estomacais, sonolência, confusão ou desorientação, irritabilidade e ansiedade leve, depressão e tremores, bem como pressão arterial anormalmente baixa. Também pode interagir com medicamentos comuns e desencadear alergias.
E mais notícias científicas associam o sono à obesidade. Uma análise feita em junho pelo departamento de Medicina do Sono da Universidade Northwestern Feinberg em Chicago, Estados Unidos, apontou que a exposição a qualquer quantidade de luz durante o sono foi correlacionada com a maior prevalência de diabetes, obesidade e hipertensão tanto em homens mais velhos quanto em mulheres.
Afinal, quantas horas devemos dormir? Depende. Essa é a resposta apontada por um estudo feito pela Keck School of Medicine da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. As necessidades de sono são muito individualizadas, diz ele, mas a recomendação geral – o “ideal” – é dormir de sete a nove horas por noite. No entanto, essas recomendações mudam à medida que as pessoas envelhecem.
Fonte: cnnbrasil.com.br