MT: ENCONTRO COM BOLSONARISTAS: Cotado para ministro, Fávaro causa mal-estar com grupo indigenista

MT:  ENCONTRO COM BOLSONARISTAS:  Cotado para ministro, Fávaro causa mal-estar com grupo indigenista
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Senador de MT se encontrou com presidente da Funai e indígenas para discutir produção agrícola em áreas demarcadas

Agência Senado
O senador Carlos Fávaro (PSD), que coordenou a campanha do ex-presidente Lula em Mato Grosso

Uma reunião do senador Carlos Fávaro (PSD-MT), cotado para ser ministro da Agricultura no futuro Governo, com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, e indígenas simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro (PL), irritou integrantes da equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Três membros do grupo que discute temas relacionados a povos originários admitiram ao Globo, reservadamente, o incômodo com o encontro, ocorrido na última quarta-feira (23), no gabinete do parlamentar.

Fávaro coordena o núcleo da agricultura na transição.

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Além do presidente da Funai, ele recebeu indígenas parecis, uma das poucas etnias cujos representantes se declaram apoiadores do atual chefe do Executivo.

Na ocasião, eles discutiram a produção agrícola em áreas indígenas, pauta identificada com o bolsonarismo, entre outras questões.

Há duas semanas, alguns dos indígenas presentes à reunião participaram de um ato antidemocrático em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília.

Um deles chegou a discursar sobre um caminhão de som.

O encontro da semana passada não foi divulgado nas redes sociais do senador tampouco na agenda oficial de Xavier.

A Funai não respondeu aos questionamentos enviados pelo Globo.

Procurado, Fávaro disse que tratou sobre o plantio de soja no território dos parecis, que soma 1,3 milhão de hectares, quase dez vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

— Nada demais. Como estou coordenando a transição do Ministério da Agricultura, eles vieram trazer a preocupação de que isso (plantações de soja em terras indígenas) possa vir a ser inviabilizado com novas políticas públicas (do futuro governo) — disse Fávaro.

Outros membros do Governo de Transição deixaram claro o incômodo com a agenda de Fávaro, como Kleber Karipuna, coordenador do núcleo de povos originários e integrante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

— Fávaro, infelizmente, está trazendo pautas polêmicas. É algo que vamos ter de enfrentar internamente, seja agora no projeto da transição, seja no próprio governo, a partir do ano que vem — queixou-se Karipuna.

SEM CONVERSA COM A FUNAI – Diferentemente do colega de transição, Karipuna rechaça qualquer possibilidade de abrir diálogo com o presidente da Funai, embora Marcelo Xavier comande o órgão do Governo responsável por políticas públicas voltadas aos indígenas.

— Não queremos nem conversa com esse homem. A gente está num processo de reconstrução da política indigenista que Xavier ajuda diariamente a destruir — disse.

As lavouras de soja ficam em cinco terras indígenas — Paresí, Rio Formoso, Utiariti, Irantxe e Tirecatinga —, que abrigam 3 mil indígenas espalhados por cerca de 60 aldeias.

O cultivo da soja e outros grãos, como feijão e milho, gera um faturamento anual de cerca de R$ 120 milhões.

Essa modalidade de cultivo está permitida no Brasil. Ela é garantida por um termo de ajustamento de conduta firmado entre o Ministério Público Federal e a Funai, já que a legislação prevê limites para a exploração econômica de monoculturas em terras indígenas.

— Vamos respeitar as etnias que não querem produzir, mas a regra em vigor dá direito ao indígena discutir e tomar a iniciativa que ele achar melhor para a sua comunidade — argumenta Fávaro.

Kleber Karipuna, do núcleo de povos originários, sustenta que tal tipo de cultivo é prejudicial às aldeias:

— Essas propostas que o governo Bolsonaro trazia de abrir terras indígenas para grandes produções descaracterizam o modo tradicional de vida indígena. Somos contra.

Ex-presidente da Funai, o antropólogo Márcio Meira, que também integra o grupo técnico dos povos originários na transição, também não vê com bons olhos a discussão sobre a plantação de soja nas reservas.

— Pode configurar arrendamento da terra indígena, porque a soja colhida nas terras indígenas entra no mercado e é exportada por não-indígenas — diz Meira.

O tema da exploração econômica por indígenas dentro de territórios demarcados já suscitou conflitos entre povos da mesma etnia.

Em maio, por exemplo, indígenas Kayapó detiveram e fizeram de reféns garimpeiros que exploram uma área protegida no sul do Pará, incentivados pelos próprios indígenas da etnia.

Ligados a uma cooperativa de produtores de soja, a Copihanama, que reúne membros das etnias Paresí, Manoki e Nambikwara, em Mato Grosso, os parecis apoiam Bolsonaro desde 2019.

Fonte:    diariodecuiaba.com.br


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