A Polícia Civil de Mato Grosso indiciou o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, em mais um inquérito da grampolândia pantaneira envolvendo o episódio de Lucas do Rio Verde (354 Km ao norte de Cuiabá). Taques é acusado de obstrução de justiça, no episódio que é investigado desde 2017 pela Força Tarefa da Grampolândia.
A delegada responsável pelo inquérito, Ana Cristina Feldner, também encaminhou cópia do inquérito para a Justiça Militar, já que o ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Siqueira, também foi investigado. Segundo o inquérito foi possível identificar crimes como obstrução de Justiça, além de delitos militares.
“Mesmo diante da complexidade envolvendo cada procedimento, a força-tarefa encaminhou para o Poder Judiciário mais um inquérito policial, sem prejuízo das investigações estarem em adiantada análise quanto aos demais”, disse Feldner.
O Caso
O esquema de escutas clandestinas investigadas, teriam sido usado nas eleições de 2012 e de 2016 em Lucas do Rio Verde, já que existem depoimentos que apontam que houveram interceptações nestes anos com a possível participação de Paulo Taques e militares.
Um dos casos tem por base o depoimento da publicitária Tatiane Sangalli em 2017, quando ela revelou que o escritório de advocacia de Paulo Taques gravou, por meio de arapongagem, uma conversa do juiz eleitoral André Gahyva com uma pessoa não identificada, que fazia parte da coligação do ex-prefeito de Lucas do Rio Verde, e atual vice-governador do Estado, Otaviano Pivetta (Republicanos), durante as eleições de 2012.
De acordo com Sangalli, o grampo foi feito por uma “caneta espiã”. “Que a depoente presenciou levarem um áudio para o referido imóvel para melhorar a sua qualidade; que, o referido áudio se tratava de uma conversa gravada entre o juiz André Gahyva e uma pessoa que a depoente não se recorda, porém era alguém ligada à coligação de Otaviano Pivetta; que a depoente também se recorda que, para conseguirem esse áudio, ouviu dizer que usaram um funcionário de um lava-jato que teria lavado o carro do juiz e aproveitando assim para colocar uma caneta espiã; que a depoente chegou a ouvir o áudio, quando estavam tentando melhorar a sua qualidade, e afirma que o áudio que foi publicado teve uma parte cortada”, diz trecho do depoimento de 2017 à Policia Civil.
Tatiane também disse à época que, durante o pleito daquele ano, a equipe de Paulo Taques prestou serviços jurídicos para Pivetta e teria montado esse “escritório clandestino” no município. “Que a depoente acompanhou Paulo Taques até a cidade de Lucas do Rio Verde, onde acompanharam praticamente toda a campanha eleitoral; que ficaram hospedados no Hotel Mandino, porém o escritório de Paulo Taques funcionou no Hotel Odara; que a depoente também se recorda que havia um outro imóvel, porém não se tratava de um hotel, e se recorda também que era um sobrado, onde a depoente viu vários computadores com fones de ouvido”, disse Tatiane Sangalli.
Na época (2012), o juiz eleitoral André Gahyva chegou a pedir seu afastamento do cargo por conta da divulgação de um áudio pela imprensa. No mesmo dia, o corregedor regional eleitoral de Mato Grosso, desembargador Gerson Ferreira Paes, determinou a abertura de uma apuração para investigar as denúncias envolvendo o juiz.
De acordo com a denúncia da época, a gravação seria entre Gahyva e o candidato a prefeito em Lucas do Rio Verde pelo PMDB, Rogério Ferrarin, para supostamente armar contra o postulante concorrente, o ex-prefeito Otaviano Pivetta , atual vice-governador. E não entre o juiz e alguém da coligação de Pivetta, como Sangalli disse.
Já nas eleições de 2016 também há suspeitas de que houve interceptações telefônicas clandestinas no município. A informação consta em um depoimento do ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), coronel Airton Benedito Siqueira, que pode ter se omitido no caso.
Em seu depoimento ainda em 2017, Siqueira confessou que Otaviano Pivetta teve o seu comitê de campanha “grampeado” em 2016, quando não conseguiu se reeleger. Segundo Siqueira, o então secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, o teria comunicado que advogados do seu escritório, que estavam prestando serviços jurídicos a Pivetta durante a campanha, eram monitorados por policiais militares.
Siqueira afirma que descobriu que o empresário Rogério Ferrarin, que à época atuava na campanha do então candidato Luiz Binotti (atual prefeito de Lucas),teria contratado o tenente coronel César Gomes por R$ 20 mil para averiguar suposta compra de votos.
“Que foram para Lucas do Rio Verde com estória cobertura de ministrar instrução de tiro e que, paralelo a isso, investigaria o fato; (…) Que o cabo da PM Rafael disse ao informante que instalaram escuta ambiental e câmeras de vídeo no comitê da campanha do Pivetta e invadiram o escritório jurídico (da campanha do Pivetta) em um hotel e tiraram fotos e mandariam esses dados ao tenente-coronel César Gomes para produzir um relatório e subsidiar futura impugnação da candidatura”, diz trecho do depoimento de Siqueira de 2017. (Com informações da Assessoria)
Outro lado
Airton Siqueira não foi localizado para se manifestar. Já Paulo Taques negou as acusações por meio de nota e disse que o inquerito será rejeitado pela Justiça.
“Esse inquérito já dura quase 6 anos. Eu sequer estava em Lucas do Rio Verde na época. Disse aos delegados que sou impedido de depor por ter atuado como advogado do Coronel Siqueira e por isso me indiciaram. Não tenho dúvidas que será anulado no Judiciário”, diz..
Fonte: gazetadigital