O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva era um dos visitantes mais aguardados na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP27), em Sharm el-Sheikh, no Egito. Após Lula prometer zerar o desmatamento na Amazônia, governos de diversos países esperam uma mudança de rumo do Brasil quanto à proteção da floresta tropical.
A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e ajuda a regular o clima e, especialmente, as chuvas nas Américas. Desde 1970, ela perdeu quase 20% de sua extensão devido a desmatamento e queimadas.
Em 2007, com base em modelos matemáticos rodados em computador, o climatologista brasileiro Carlos Nobre apontou que, caso 40% da Floresta Amazônica desaparecessem, a densa mata alcançaria um ponto crítico de desequilíbrio ou inflexão (tipping point), e perderia a capacidade de se manter como vegetação densa. Em 2017, essa projeção foi corrigida: em vez de 40%, 20% de destruição seriam suficientes para a morte da floresta. As consequências climáticas seriam devastadoras.
Quando assumiu seu primeiro mandato, em 2003, Lula herdou uma série crescente de desmatamento da Amazônia. No ano seguinte, com Marina Silva à frente do Ministério de Meio Ambiente, a criação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (Ppcdam) freou o ritmo de destruição da floresta. De 2004, quando o plano foi criado, até o fim do segundo mandato de Lula, em 2010, a redução da devastação foi de 73%.
Muito desse trabalho, porém, foi desmontado nos últimos quatro anos sob a presidência de Jair Bolsonaro. Entre 2019 e 2021, o desmatamento na Amazônia aumentou 73% – seu nível mais alto desde meados dos anos 2000 –, em parte para dar lugar à criação de gado e ao cultivo da soja. O desmatamento da floresta – 60% da qual está localizada no Brasil – também impulsionou um aumento das emissões brasileiras de de gases de efeito estufa: de 2020 para 2021, o salto foi de 12,2%.
Além da luta pelo desmatamento zero da Amazônia, Lula prometeu combater a extração ilegal de madeira e proteger os direitos territoriais dos povos indígenas da região, cujas terras puderam ser exploradas com mais facilidade= por madeireiros ilegais, garimpeiros e grileiros sob o governo Bolsonaro. “O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva”, afirmou Lula após vencer as eleições.
Transformando a retórica climática de Lula em ação
Após chegar à COP27, Lula pretende ter mais reuniões com lideranças mundiais sobre soluções climáticas do que Bolsonaro teve durante seus quatro anos de mandato, como afirmou na sexta-feira (11/11) o presidente eleito, em Brasília. E encontrar maneiras de combater a destruição ilegal da Amazônia deve ser uma parte central dessas conversações, dizem ativistas.
“Lula deveria especificar como pretende garantir o Estado de Direito na Amazônia e proteger tanto a floresta quanto seus defensores”, afirmou Maria Laura Canineu, diretora da ONG Human Rights Watch no Brasil. “Ele deveria se comprometer com o fortalecimento das agências ambientais e indigenista.”
Lula, que é um veterano das negociações climáticas, planejava se encontrar com o enviado climático dos EUA, John Kerry, nesta terça-feira (15/11) para fortalecer a cooperação global para salvar a Amazônia – e anunciar a disposição do Brasil de sediar a COP30 em 2025, segundo informações do jornal O Globo.
Além de Kerry, Lula também se reunirá como o negociador-chefe da China para o Clima, Xie Zhenhua, noticiou a agência Reuters citando um porta-voz do presidente eleito.
A ex e provável futura ministra do Meio Ambiente de Lula, Marina Silva, já vem participando de diversas reuniões na cúpula da ONU. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ela lembrou que o Brasil foi responsável, de 2003 a 2008, por 80% das áreas florestais protegidas criadas no mundo e que o mundo quer ver o Brasil exercendo novamente um papel de liderança.
Após reuniões na quinta-feira passada com John Kerry e diretores do Banco Mundial, Marina afirmou que “há toda uma disposição de voltar a investir no Brasil”.
Isso inclui retomar o Fundo Amazônia com a Alemanha e a Noruega para proteger a floresta tropical e as negociações do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. O tratado entre os dois blocos inclui compromissos climáticos robustos.
Alemanha e Noruega querem reativar Fundo Amazônia
Na COP27, Lula buscará reativar uma coalizão que já se comprometeu a acabar com o corte ilegal de madeira no Brasil, mas que desmoronou sob a gestão de Bolsonaro.
Marina Silva já deu início ao processo, tendo solicitado aos EUA a adesão também ao Fundo Amazônia – criado em parceria com a Alemanha e a Noruega em 2008 para ajudar a financiar a proteção da biodiversidade da região.
No final de outubro e início de novembro, Alemanha e Noruega afirmaram que estão dispostas a retomar o financiamento do Fundo Amazônia. Os dois países deixaram de fazer pagamentos em 2019, após Bolsonaro assumir a presidência e enfraquecer as medidas de proteção ambiental da região.
“Com o peso e a influência de Lula, e devido às preocupações de todo o mundo com a Amazônia, é possível que alguns acordos bilaterais sejam alcançados [na COP27]”, afirmou Daniela Costa, do Greenpeace Brasil, à agência de notícias AFP.
Fonte: dw.com