Localizado no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), acervo tem mais de 30 mil documentos, além de livros e coleção de artes visuais do intelectual que foi destaque do modernismo
Mário de Andrade foi um homem múltiplo profissionalmente e ávido por cultura. Em um de seus poemas, ele diz: “Eu sou trezentos, trezentos e cinquenta”. Foi escritor, poeta, modernista, ensaísta, viajante, fotógrafo, gestor público, crítico de arte, musicólogo, professor. Viveu 51 anos.
Seu acervo chegou ao IEB em 1968, após negociação com sua família e recomendação do Professor Antonio Candido que informou em uma correspondência no ano de 1966 “(o acervo) representaria a aquisição de um patrimônio inestimável que é ao mesmo tempo um incomparável instrumento de trabalho para os investigadores de agora e do futuro, significando ainda, a realização dos desejos de Mário de Andrade, que disse e escreveu tantas vezes que tudo que juntou se destinava ao proveito dos seus concidadãos”.
Desde 1995, o Acervo de Mário de Andrade é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Isso significa que seus objetos, obras de arte, biblioteca e arquivo pessoal foram declarados patrimônio nacional, pois se reconhece a importância cultural e social desta coleção para a sociedade brasileira. Foi o próprio Mário de Andrade um dos autores do anteprojeto da criação do SPHAN, que foi a primeira denominação do órgão federal de proteção ao patrimônio cultural brasileiro, hoje denominado IPHAN.
17 mil volumes, entre livros, separatas, revistas e jornais
COLEÇÃO DE ARTES VISUAIS
673 obras, entre pinturas, gravuras, desenhos, objetos de arte religiosa, popular e indígena
ARQUIVO
30.240 documentos, entre correspondências, partituras, manuscritos de obras, programas musicais, fotografias, cardápios, recorte de jornais, entre outros tipos documentais
A casa do Mário é um documentário feito em 2013 com base no acervo do IEB pelo pesquisador e diretor Domingos Luiz Bargmann Netto, documentarista da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
No curta-metragem de 26 minutos, são apresentadas imagens raras da casa do escritor paulista, localizada no bairro Barra Funda, em São Paulo, assim como fotografias e peças de sua coleção de artes.
De criações musicais a cardápios de restaurantes
Uma série de podcasts produzidos pelo IEB explica itens do acervo e apresenta pesquisadores e técnicos do instituto explicando o acervo de Mário de Andrade. Clique nos players para ouvir:
O cérebro de Mário de Andrade
Os itens do acervo de Mário de Andrade possuem uma relação orgânica entre si, como se vários elos fossem formados à medida que constituía seu acervo, e que garantem a completude de informações entre eles.
Mário de Andrade fazia um trabalho minucioso de organização de seus materiais, que podem ser conferidas nas etiquetas de seus livros, em fichas, em anotações em fotografias ou manuscritos.
O fichário analítico de Mário de Andrade é um instrumento que permite desvendar esses vínculos entre os itens de forma mais direta. É onde Mário muitas vezes deixou clara a relação que um livro tinha com um manuscrito e esse como uma correspondência.
Mário de Andrade queria deixar para outras gerações o acesso ao acervo que acumulou durante anos de trabalho.
Uma biblioteca pessoal
Mário de Andrade fazia muitas anotações nos livros que possuía, por isso seus livros não circulam mas podem ser consultados na biblioteca do IEB, ou vistos em exposições pelo país ou pelo mundo.
Muitos de seus livros contêm dedicatórias de seus autores, algumas sucintas, outras em páginas, revelando a rede de relações de amizades do escritor.
Além de livros em diversas línguas estrangeiras como grega, russa, indu, Mário também colecionava livros infantis e seu acervo contém importantes escritoras brasileiras da virada do século XIX para o século XX, como Júlia Lopes de Almeida e Auta de Souza.
Gigantismo epistolar
Mário escreveu para Carlos Drummond de Andrade que sofria de “gigantismo epistolar”, uma expressão certeira sobre as mais de 8 mil correspondências em seu acervo, considerando cartas recebidas, enviadas e de terceiros. São cerca de 1200 correspondentes com os quais são tratados assuntos diversos e que, muitas vezes, se refletem em nossa memória cultural.
Mário fez viagens pelo Brasil em que registrou em anotações e fotografias os diversos tipos de brasileiros e as múltiplas manifestações artísticas dos locais pelos quais passou. É possível encontrar a influência dessas viagens em suas obras. Dois percursos que merecem destaque são o da 1ª Viagem etnográfica (1927), que englobou o nordeste, Amazonas e Peru e da 2ª viagem etnográfica (1928-1929) pelos estados do Nordeste. Para saber mais sobre estas duas viagens, há uma publicação do Turista Aprendiz no link: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/O_turista_aprendiz.pdf
À frente do Departamento de Cultura de São Paulo, em 1938, Mário de Andrade realizou o projeto de Missão de Pesquisas Folclóricas, em que enviou pessoas para o Norte e Nordeste do país para registrar manifestações da cultura popular, em especial músicas. Entre os colaboradores enviados estão Donga, Pixinguinha, Villa-Lobos e Camargo Guarnieri.
Curiosidades sobre o acervo
Mário fazia muitas anotações nos livros de sua biblioteca, o que permite conhecer seus conceitos, opiniões e a relação entre suas pesquisas
Para quem estava no início do século XX, ele possuía uma coleção grande de livros
Mário buscava ter dois exemplares de cada título em sua biblioteca, assim um deles poderia ser emprestado, apesar de preferir que seus colegas os lessem na sua casa
Vez ou outra ainda é possível encontrar em seus livros bilhetes, cartas, desenhos
Ele colecionava cardápios: talvez sejam lembranças de momentos que passou com personalidades importantes do início do século XX, pois muitos são assinados pelos que estavam presentes nas refeições, como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Oswald de Andrade
Ele compôs a música Viola Quebrada
Como ter acesso ao acervo
O acervo é aberto a qualquer pessoa, por meio de agendamento:
Biblioteca (atendimento.bibieb@usp.br) segunda à quinta, à tarde
Arquivo (arquivoieb@usp.br) segunda à quinta, de manhã
Também há a biblioteca digital, com obras em domínio público neste link
Como pesquisar
É possível fazer a consulta prévia ao acervo:
Biblioteca | Arquivo | Coleção de Artes Visuais
Série de conteúdos produzidos pelo projeto Ciclo22, que remete à reflexão da USP sobre quatro grandes marcos (1822, 1922, 2022 e 2122): o bicentenário da Independência do Brasil, o centenário da Semana de Arte Moderna, o tempo presente e os desafios para os próximos 100 anos
Acompanhe o projeto Ciclo22 da USP no site: ciclo22.usp.br
Fonte: brasilcultura.com