Os apoiadores mais extremistas do presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas na eleição de domingo, declararam guerra às instituições democráticas e iniciaram um movimento de desobediência civil em defesa de um golpe militar. O movimento eclodiu em Mato Grosso na noite de domingo, 30, logo que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concluiu a apuração de 99,5% das urnas do país e declarou Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente eleito do Brasil para o quadriênio 2023/2026. Mato Grosso foi o estado do Centro-Oeste em que Bolsonaro teve o maior índice de votos, com 65,08% da preferência dos eleitores, totalizando 1.216.730 de votos.
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 34,92% dos votos ou 652.786 votos válidos no segundo turno das eleições. De forma articulada, pequenos grupos de militantes da candidatura reeleitoral de Bolsonaro no estado trancaram trechos da BR-163 inicialmente em Sinop, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Nova Mutum. Foram montadas barreiras com pneus e madeira que foram incendiadas em seguida. Os protestos se espalharam por várias cidades em seguida.
Foram levantadas barreiras ao longo da noite em Cáceres, Tangará da Serra, Várzea Grande e Rondonópolis. Em vídeos espalhados pelas redes sociais, supostos “lideres” dos protestos contra a eleição de Lula afirmam que a paralisação reúne caminhoneiros, empresários do agronegócio e transportadoras e só será suspensa quando o exército assumir o governo do país, intervir no Judiciário (TSE e STF), cancelar as eleições e “restabelecer a ordem” nacional.
Em um dos vídeos, um homem chega a estabelecer prazo de 72 horas para o Exército “tomar providências” e “salvar o Brasil do PT”. Chama a atenção nos estacionamentos dedicados aos organizadores dos bloqueios a grande quantidade de veículos de luxo com cartazes e adesivos de Bolsonaro. São camionetes de alta potencia como Rangers 250, Hilux, Amaroks, Land Rovers, SUVs e sedans de várias marcas, o que indica o alto poder aquisitivo dos financiadores do movimento. No final da manhã desta segunda-feira, 31, a Polícia Rodoviária Federal (PRF), confirmou que dos 18 pontos de rodovias interditados durante a noite e madrugada, apenas oito seguiam ativos.
Os pontos de interdição confirmados pela PRF estão localizados na BR-163, km 835 em Sinop com ambos os sentidos de tráfego bloqueados. Pela rodovia, não está sendo permitida a passagem de nenhum tipo de veículo, mas é possível fazer desvios por dentro da cidade.
Ainda na BR-163, no km 691em Lucas do Rio Verde, o bloqueio é parcial, estando liberado em ambos os sentidos para ônibus, ambulâncias e veículos de passeio caso o passageiro tenha consulta médica em outro município.
Em Nova Mutum, o bloqueio é no km 594 da Br-163 e o tráfego só é liberado no sentido sul apenas para ônibus e ambulâncias; no sentido norte só é liberado para ambulâncias, veículos de passeio e caminhões/carretas com produtos perecíveis e cargas vivas. No km 601 no mesmo município, o grupo que comanda o bloqueio só permite a passagem de ambulâncias.
Na BR-070, km 524 em Várzea Grande, ambos os sentidos da rodovia foram bloqueados pelos bolsonaristas. A passagem só é liberada para ambulância, veículos de passeio e perecíveis.
Em Sorriso, na altura do km 746 da BR 163 não é permitida a passagem de tipo de nenhum veículo. No km 713 em ambos os sentidos há bloqueio na pista, porém os veículos podem desviar pelas faixas de domínio nos dois sentidos.
Em Cuiabá, na altura do posto Mangueiras, a BR-364 tem um bloqueio nos dois sentidos do tráfego. A passagem de veículos de passeio, que transporte carga viva, perecíveis, ambulâncias e ônibus está liberada.
A concessionária Rota do Oeste, que administra os trechos, informou que acompanha sem interferência nas manifestações, com foco apenas na segurança viária. As equipes operacionais da empresa sinalizam o final da fila para evitar acidentes. Vídeos nas redes sociais indicam que há barreiras impedindo o tráfego na rodovia na BR-070 em Cáceres após o posto de fiscalização da PRF.
A corporação, no entanto, não confirmou a manutenção desse bloqueio que foi armado durante a noite. Protestos semelhantes estão ocorrendo ainda em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul – onde o diretor do Grupo Milas, jornalista Maycom Milas se encontra em viagem – os maiores bloqueios ocorrem em Dourados, Campo Grande e Coxim. Na Bahia, os bloqueios acontecem especialmente na região oeste, nos municípios de Eduardo Magalhães e Barreiras.
CRIMES GRAVES
O trancamento de rodovias é ilegal. Ao bloquearem a tráfego, os responsáveis pelos protestos incorrem em vários crimes ao infringirem o Código Nacional de Trânsito, o Código de Defesa do Consumidor, o Código de Direito Civil, os marcos legais do livre comércio, a Constituição Federal em seu capítulo das Garantias e Direitos do Cidadão, podendo extrapolar inclusive para crimes como sequestro, chantagem, agressão, ameaça, destruição de patrimônio público e privado.
De todos os crimes, no entanto, o mais grave é o caracterizado pelo motivo alegado para a deflagração dos bloqueios: a reivindicação de um golpe de estado para satisfazer seus interesses políticos circunstanciais e particulares. Os responsáveis poderão ser presos em flagrante por sedição, incitação à guerra, atentado contra o Regime Democrático e traição à pátria.
ELEIÇÃO ACIRRADA
Os bolsonaristas se recusam a aceitar a derrota para o ex-presidente petista, Lula, de 77 anos, agora eleito pela terceira vez ao cargo máximo da República. Lula recebeu 60.345.999 votos ou 50,90%, enquanto Bolsonaro ficou com 58.206.354 votos ou 49,10%. A diferença de pouco mais de 2,139 milhão de votos aponta o alto grau de acirramento da disputa e divisão do eleitorado brasileiro neste pleito. Em seu primeiro discurso, o presidente eleito adotou tom conciliatório.
O atual presidente, por ora, não se manifestou. Bolsonaro se trancou na noite de domingo no Palácio do Planalto e não atendeu nem mesmo a seus aliados. Coube ao presidene da Câmara Federal, Arthur Lira, um dos mais fieis apoiadores do presidente, admitir publicamente a derrota e parabenizar o vencedor do pleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
Fonte: copopular.com.br