Após uma pausa (ou fim?) nos aumentos na taxa básica de juros da economia brasileira, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne novamente na semana que vem para definir os rumos da Selic. A expectativa é de manutenção em 13,75%, conforme cenário apresentado na última reunião. Os economistas anseiam por alguma indicação no comunicado a respeito de um possível início dos cortes no futuro, mas não esperam que isso possa, de fato, ocorrer.
Alguns especialistas não descartam totalmente um possível aumento residual, tendo em vista que, mesmo que a inflação tenha apresentado queda nos últimos meses, ainda está bem longe da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 3,5% com tolerância superior de 5%. O ciclo de aperto monetário teve início em março de 2021, quando o Copom subiu a Selic de 2% para 2,75%. Após os sucessivos aumentos, o Comitê realizou a última elevação após reunião finalizada em 3 de agosto. Em setembro, a Selic foi mantida no patamar atual.
A taxa anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu para 7,17% em setembro. Em agosto, era de 8,73%. Em julho, passava dos dois dígitos, em 10,07%.
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Para Fábio Terra, professor de economia da Universidade Federal do ABC, tudo indica que a decisão pela manutenção deve se repetir. Com as deflações, as expectativas de inflação começaram a se reajustar de forma baixista. “Diante disso, acho que não há motivo para subir a taxa de juros, ainda que o que tenha causado a redução do IPCA tenha sido concentrado no transporte, por causa do combustível, o que é muito conjuntural, o comportamento dos demais fatores não implica que haja qualquer pressão muito urgente para que o Copom tenha que subir a taxa de juros novamente”, explica Terra.
Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital, também espera a manutenção da taxa de juros em 13,75%, sem mudanças relevantes. Para Costa, o comunicado deve indicar que a taxa deve ficar constante por mais tempo e que, não necessariamente, o próximo movimento vai ser de queda nos juros e não de alta, tendo em vista que a decisão vai depender da evolução dos dados. “O cenário da última reunião para essa não evoluiu significativamente nem para um lado, nem para outro, de tal maneira que, sem notícias novas, eu não imagino que o Copom vai mudar o plano de voo deles, que é atualmente de sentar e esperar as próximas novidades. É um Copom que, se acontecer algo, será uma surpresa de fato”, avalia.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, concorda que a decisão não deve trazer grandes novidades, devido à sinalização da manutenção da taxa no último comunicado. “Acho que o mercado vai procurar a partir de agora sinais sobre quando o ciclo de cortes começa. Acredito que o certo a ser feito é não dar nenhum tipo de sinalização nesse sentido”. Para a economista, seria uma mudança muito grande em relação ao último comunicado, quando o Copom avisou que poderia voltar a subir juros conforme a necessidade. “Ainda existem alguns componentes na inflação que preocupam, como inflação de serviços, além da política fiscal que vai ao aposto da política monetária. Ela está extremamente expansionista e há risco de ficar ainda mais na reta final das eleições”, alerta Veronese, reforçando que o cenário ainda merece cautela.
Sobre a situação fiscal, Terra discorda que o “pacote de bondades” eleitoral possa implicar em aumentos da demanda suficientes para impactar de forma acentuada a inflação. “A economia brasileira vai crescer mais do que a gente esperava, mas diante de alto desemprego, então há capacidade de oferta. Com isso, os gastos do governo não estão gerando demanda suficiente para ultrapassar a oferta e causar inflação. O que poderia ter é uma desconfiança muito grande em relação às contas públicas e isso levar a um fluxo de capital, com taxa de câmbio desvalorizando, causando inflação”, detalha.
No entanto, esse não é o cenário que acredita ser o mais provável, pois pondera que o “capital estrangeiro está muito mais arisco sobre o que está acontecendo no resto do mundo do que o que ocorre no Brasil”. Além disso, Terra completa que a medidas eleitoreiras estão implicando altos custos, mas os agentes já incorporaram as ações nas expectativas, ou seja, não devem gerar grandes movimentos no câmbio.
Mas ainda há a possibilidade de um aumento residual na taxa de juros. É o que acredita Pedro Henrique Ricco, CEO da Delta Investor, que vê em um aumento na Selic em 0,25 ponto percentual, levando a taxa para 14%. “O Copom está passando por um momento de decisão de trade-off, em uma economia que vem diminuindo a sua constância de crescimento e entendo que estamos em uma fase de platô”. Para o economista, a pressão na inflação está nos preços administrados em um momento político eleitoreiro, com defasagem no preço de energia e combustíveis. Para Ricco, o momento internacional conturbado traz mais pressão inflacionária e risco de desconfiança com a economia brasileira, pois o mundo ainda passa por mudanças robustas nas taxas de juros.
A pausa no ciclo de aperto monetário é um dos motivos apontados por economistas para um cenário mais favorável para o Ibovespa a partir de agora.
Fonte: msn.com