Ação parte de uma conversa no WhatsApp em estaria sendo organizada uma manifestação; estudante diz ter se retratado
A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) denunciou ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal (PF) um grupo de estudante que teria convocado uma manifestação armada de campanha eleitoral em prol ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em Cuiabá.
A denúncia recorre à publicação de um print da conversa entre estudantes num grupo de WhatsApp em redes sociais. As mensagens chamam os participantes a fazer uma caminhada com atos na UFMT e na avenida Fernando Corrêa.
A atenção recaiu sobre a mensagem postada pelo estudante de medicina H.G., 24 anos, que fala em “chamar a polícia” e “quem estiver armado vá, pois eles podem nos atacar”.
“Galera, precisamos agir com Cristo! Vamos mobilizar na UFMT, na praça do RU (Restaurante Universitário), cantar o hino nacional, fazer oração e fazer uma caminhada até à avenida Fernando Corrêa, pacificamente. Posso chamar os docentes, pela liberdade (tenho, no mínimo, 15 professores na UFMT), os técnicos, a imprensa e a polícia. Tenho contato do [vereador cassado Marcos] Paccola, ele pode dar uma força. E quem estiver armado vá, pois eles podem nos atacar”, diz a mensagem.
A mensagem “vazou” no começo desta semana e gerou repercussão. O Ministério Público Eleitoral (MPE) protocolou uma ação com urgência contra dois estudantes do grupo. A ação, que tem a solicitação de exercício de polícia, partiu de uma denúncia da Procuradoria Regional do Direito dos Cidadãos.
O procurador-geral eleitoral, Erich Masson, afirma que a medida é necessária “por se tratar de iniciativa que se constitui em verdadeira afronta à legislação e à Constituição Federal (divulgação, propagação, convocação e/ou realização do evento com o uso de armas), além de incentivar que venham a adotar práticas semelhantes”.
A UFMT afirmou que a denúncia ao MPF foi feita para “resguardar a comunidade universitária”. A Polícia Federal foi notificada a acompanhar o caso de maneira preventiva.
“A UFMT preza pelos princípios constitucionais. A liberdade de expressão é o vetor máximo da democracia e deve ser resguardada e defendida. A fim de resguardar a comunidade universitária e de forma preventiva, a instituição informou à Polícia Federal sobre tais fatos veiculados nas redes sociais”, diz nota.
O que diz o estudante
O estudante H.G., que pediu para não ter o nome identificado por completo, afirmou que sua mensagem foi feita em um contexto de discussão eleitoral sobre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E disse ter escrito um “texto ruim” ao tentar se expressar sobre sua posição política.
“Eu sei que errei ao falar daquele jeito, mas eu fui mal interpretado. Eu nunca chamei ninguém para se armar. Quando eu falei de ‘ir armado’, eu estava falando dos policiais que chamaríamos para acompanhar a nossa manifestação. Agora, estão dizendo que eu sou uma pessoa armamentista”, afirmou.
O estudante disse ainda que enviou uma carta de retração pública à reitoria da UFMT e ao Diretório Central dos Estudantes (DCE), onde, segundo ele, um post foi publicado, horas depois de a mensagem ter sido “vazada” na internet.
Na carta direcionada “a todos os estudantes da UFMT”, ele diz “eu não escondo que sou apoiador de Bolsonaro, mas isso não é motivo para me afastar dos colegas e amigos nesta universidade, pois todos, mesmo os que pensam de forma diferente de mim, são pessoas queridas que estimo”.
“Em um impulso nervoso, diante de todo esse clima tenso das eleições, debates, manifestações, etc., escrevi um texto de uma forma ruim quando falei de ir armado para a UFMT enfrentar o debate e virar o voto dos petistas”, diz trecho da carta.
O estudante diz que foi chamado pela reitoria da UFMT para uma reunião na próxima semana para “esclarecer” a situação. O DCE não teria respondido seu pedido de retratação.
Fonte: olivre.com.br