Convenção nacional do PDT confirmou candidatura à Presidência; Ciro sofre pressão pelo voto útil
Estacionado em terceiro lugar das pesquisas e com possibilidades restritas de aliança na disputa eleitoral, Ciro Gomes teve a candidatura à Presidência confirmada nesta quarta-feira (20) na convenção nacional do PDT, realizada na sede do partido, em Brasília.
O nome de Ciro foi avalizado pelos 250 presentes no local e pelos 30 que acompanharam a convenção remotamente, de acordo com o presidente do PDT, Carlos Lupi. Não houve votos contrários.
Em discurso de quase uma hora que teve recepção morna dos presentes, Ciro repetiu o roteiro que tem seguido em sua campanha e atacou os dois líderes das pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL).
Em suas falas, Ciro afirmou que o “lulismo pariu Bolsonaro” e que o país chegou à atual situação porque esquerda e direita são “cúmplices do mesmo modelo” e incapazes de propor uma saída.
“O Brasil vive a pior crise de sua história e dois dos principais responsáveis por ela estimulam uma polarização vulgar, personalista e odienta, um alimentando o outro. Um agredindo moralmente o outro, reduzindo tudo a uma trágica e ridícula disputa pessoal”, criticou.
“Essa polarização odienta, despolitizada e apaixonada não produz diagnósticos para os nossos problemas. Não constrói soluções, apenas xingamentos morais e ideológicos. Os dois disputam entre si quem é o mais corrupto, quem é o mais autoritário, quem é o mais fascista ou quem é o mais comunista”, disse. “Parece que nós estamos nas antecedências da Segunda Guerra Mundial.”
Em vários pontos de sua fala o pedetista buscou associar Lula e o PT a Bolsonaro. “Eu estou tentando lamentavelmente mostrar que votar no Bolsonaro para protestar contra o descalabro do PT e agora votar no PT para protestar contra o descalabro do Bolsonaro vai liquidar nossa nação”, afirmou.
Ele também reagiu à ofensiva do PT contra palanques pedetistas, em tentativa de evitar um segundo turno eleitoral, e se disse chocado com “a absoluta falta de comportamento democrático do Lula em invadir e tentar destruir as organizações partidárias.”
“O que o Lula está fazendo com a senadora Simone Tebet é puro fascismo. Puro fascismo”, disse.
“Aliciar uma banda de ladrões do MDB, corruptos, velhos sócios dele, Lula, na roubalheira, como Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Romero Jucá, Eduardo Braga, Edson Lobão, para tirar o direito de a senadora ser candidata é puro fascismo, enquanto se ilude a população que quer combater o fascismo.”
O presidenciável do PDT se referia à iniciativa de uma ala do MDB de declarar apoio a Lula e pressionar pela desistência de Tebet na corrida eleitoral.
A pressão pelo voto útil também aparece dentro do PDT. Na convenção, Miguelina Vecchio, presidente nacional da Ação da Mulher Trabalhista e vice-presidente nacional do PDT, criticou quem resiste à candidatura própria dentro da legenda. “Quem não gosta do Ciro, a porta da rua é serventia da casa”, disse.
No discurso aos apoiadores, Ciro citou a aprovação da PEC dos bilhões e chamou a medida de “maior estelionato eleitoral da nossa história.”
Na entrevista, ele acusou o PT de deixar a oposição falando sozinha na votação na PEC -os deputados pedetistas, porém, deram voto favorável à proposta nos dois turnos de votação. “Tudo para salvar o Bolsonaro”, disse.
Ao ser questionado sobre os votos do PDT, ele disse que o PT deixou a legenda vendida. “O PT tem 50 deputados e nós temos 18 [na verdade, são 56 e 19, respectivamente]”. “Se nós fizéssemos um esforço de conquista dos 50 deputados, nossos 18 tinham votado contra.”
O pedetista falou ainda sobre o episódio em que foi agredido por um grupo de petistas durante um ato em São Paulo pelo impeachment de Bolsonaro.
“O Lula no dia seguinte: ‘ele deve ter dito alguma coisa que eles não gostaram’. Mas aí morre um petista nessa tragédia em Foz do Iguaçu e os caras querem fazer comício com o cadáver do cara. É muito oportunismo, muita desonestidade. O Lula virou uma pessoa sem nenhum tipo de escrúpulo.”
O candidato do PDT fazia referência à morte do guarda municipal e militante petista Marcelo Aloizio de Arruda por um policial penal bolsonarista durante sua festa de aniversário.
Ciro afirmou que, se eleito, acabaria com as emendas de relator no primeiro dia de seu governo. Os recursos se tornaram moeda de troca de apoio do governo no Congresso.
Atualmente, Ciro tem 8% nas pesquisas de intenção de voto. É um patamar semelhante aos 6% registrados no Datafolha divulgado em junho de 2018, o último antes da convenção da legenda que confirmou o pedetista para a corrida eleitoral daquele ano.
É também uma realidade bem distante das projeções feitas por Lupi, que via o pedetista com 15% ou 20% das intenções de votos em março deste ano.
Em 2022, o agora confirmado candidato do PDT se vê diante de uma corrida ainda mais polarizada do que a de 2018, quando Lula, ainda que preso havia dois meses, liderava os levantamentos de intenção de voto, com 30%, segundo pesquisa Datafolha de junho. Bolsonaro tinha 17%. Neste ano, o levantamento mais recente do instituto, divulgado no final de junho, mostrou Lula com 47% e o atual presidente com 28%.
Em uma disputa menos pulverizada que a de 2018, Ciro tem poucas opções de aliança. Partidos como MDB, PSDB e Cidadania se uniram em torno da candidatura da senadora Simone Tebet (MDB). Com 1% das intenções de votos, Tebet é bombardeada constantemente por alas emedebistas defensoras de Lula e Bolsonaro.
Além dos nanicos, uma possibilidade de Ciro fechar uma aliança que o beneficiasse seria atrair a União Brasil para o seu lado. Se for bem-sucedido na empreitada, a estratégia pode impulsionar a exposição de Ciro no rádio e na TV. O partido de Luciano Bivar tem tempo de 125,9s a cada bloco de 12min30s. O PDT de Ciro tem 47,3s.
“Nós temos uma conversa em aberto com o União Brasil, que tem candidato neste momento, e temos uma conversa em aberto com o PSD”, disse. A União Brasil, no entanto, é cobiçada pelo PT de Lula para tentar liquidar a fatura já no primeiro turno.
Essa dificuldade pode levar o pedetista a procurar um vice dentro do próprio PDT, caso não consiga atrair outros partidos. Ciro afirmou que sua preferência é por uma vice mulher.
Outra limitação da campanha são os estados. No Sudeste, onde Ciro vai melhor, o candidato tem palanques assegurados em São Paulo -com o pedetista Elvis Cezar- e no Rio de Janeiro, com o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves -que, no entanto, participou de um ato em apoio a Lula no início de julho.
Em Minas, o partido tentou uma aliança com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), mas sem sucesso -o mineiro decidiu apoiar Lula.
No Ceará, a decisão do partido de barrar a reeleição da governadora Izolda Cela e escolher o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio levou a uma reação do PT, que anunciou rompimento e indicou lançamento de candidatura própria.
Na convenção, um grupo de militantes do partido segurava cartazes em apoio a Roberto Cláudio.
Na entrevista, Ciro negou que o PDT tenha rompido com o PT no Ceará. “Eu não tenho notícia de rompimento, e nós temos a intenção de manter a aliança”, disse.
“O Lula resolveu desconsiderar toda e qualquer ética e qualquer escrúpulo e resolveu destruir os partidos. Ele chamou o Rodrigo Neves, meu irmão Cid Gomes, chamou o [senador] Weverton, Carlos Eduardo, e tentou operar no Ceará também, com gente que eu ajudei a criar.”
Na convenção, Lupi anunciou a distribuição do fundo eleitoral do partido, de R$ 253,4 milhões. Do total, 30% serão destinados a mulheres, como prevê a lei. Além disso, 40% dos recursos serão destinados para as disputas majoritárias, e 30% para os quase 1.400 candidatos a cargos eletivos estaduais e federais.
Fonte: www.midianews.com.br