A China e a Rússia usaram a reunião de cúpula anual dos Brics, realizada nesta quinta-feira (23/06), para criticar os países do Ocidente e as sanções aplicadas contra Moscou devido à guerra na Ucrânia.
O grupo, que inclui também Brasil, Índia e África do Sul, deveria “assumir a responsabilidade” e trabalhar pela “igualdade e justiça” no mundo, disse o presidente chinês, Xi Jinping, em seu discurso de abertura. Ele apelou para que os países dos Brics se oponham às sanções impostas pelo Ocidente.
Xi já havia feito comentários semelhantes na quarta-feira, no fórum empresarial dos Brics, quando disse que as sanções eram “um bumerangue e uma espada de dois gumes” que afetavam todos os países do globo e advertiu contra a “expansão de alianças militares”, como vem ocorrendo com a Otan, que recebeu pedidos da Suécia e da Finlândia para aderirem à aliança.
O presidente russo, Vladimir Putin, por sua vez, culpou “ações impensadas e egoístas de certos países” pela crise econômica global, e disse que “cooperação honesta e mutuamente benéfica” seria a única saída para essa crise.
“Esta situação de crise que se configurou na economia global devido às ações impensadas e egoístas de certos Estados que, usando mecanismos financeiros, essencialmente transferem a culpa por seus próprios erros de política macroeconômica para o mundo inteiro”, disse Putin.
O líder russo também afirmou que a autoridade e a influência dos Brics a nível mundial estaria “aumentando constantemente” à medida que os países membros aprofundavam sua cooperação e trabalhavam para “um sistema verdadeiramente multipolar de relações interestaduais”.
Na quarta-feira, no fórum empresarial do bloco, Putin havia ressaltado o aumento de parcerias comerciais e da exportação de petróleo russo para países do Brics.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, optou por um discurso mais comedido, no qual defendeu a reforma de organizações internacionais como o Conselho de Segurança da ONU e o Banco Mundial para darem mais peso à representação das “economias emergentes”.
Bolsonaro também evitou se posicionar sobre a guerra na Ucrânia, e disse somente que os países deveriam priorizar o “exercício diplomático que produza prosperidade e paz”.
Índia e China compram mais petróleo da Rússia
A China, a Índia e a África do Sul se abstiveram de votar em uma resolução das Nações Unidas condenando a invasão russa da Ucrânia. O Brasil votou a favor da resolução, apesar de Bolsonaro ter visitado Putin poucos dias antes da invasão e ter dado declarações dúbias sobre o tema.
A Índia está assumindo uma posição neutra em relação à guerra na Ucrânia e não tem apoiado as sanções. Nova Delhi tradicionalmente tem boas relações com Moscou e compra muitos armamentos russos.
Recentemente, tanto a China com a Índia vêm aumentado significativamente suas importações de petróleo da Rússia. Na Índia, as compras de petróleo russo de março a maio foram seis vezes maiores do que no mesmo período do ano anterior, enquanto as importações da China no mesmo período triplicaram, segundo dados da consultoria de pesquisa Rystad Energy.
Apenas no mês de maio, de acordo com dados do governo chinês, as importações de petróleo bruto da Rússia pela China foram 55% superiores do que há um ano, desbancando a Arábia Saudita como principal fornecedor da China.
Os Brics reúnem mais de 40% da população mundial e cerca de um quarto do PIB (Produto Interno Bruto) global. Os líderes dos cinco países dos Brics reúnem-se uma vez por ano desde 2009. Neste ano, a cúpula foi realizada de forma virtual, devido às rigorosas medidas sanitárias contra a pandemia em vigor na China, que exerce a presidência rotativa do bloco.
Divergências entre os países
Os membros dos Brics não estão alinhados em todas as questões e as relações entre alguns deles são tensas.
Os laços entre a China e a Índia em particular se deterioraram em meio a um impasse militar na região fronteiriça de Ladakh, nos Himalaias, após confrontos mortais entre militares dos dois lados em junho de 2020.
A Índia também faz parte do grupo Quad, composto por Austrália, Japão e EUA, que em maio emitiu uma declaração opondo-se fortemente a quaisquer “ações coercitivas, provocatórias ou unilaterais que procurem mudar o status quo e aumentar as tensões” na região do Indo-Pacífico, tendo como pano de fundo as crescentes ambições políticas da China na região.
Taiwan, uma ilha autogovernada que Pequim reivindica como seu próprio território, é um ponto central desse conflito. Há receio de que Pequim use suas forças armadas para tentar forçar uma reunificação. Taiwan tem um governo independente desde 1949.
Fonte: dw.com