Política do governo Maduro desestimula investimentos
Se o mundo pós pandemia vê na retomada do comércio a chance de recuperação da economia, na Venezuela o poder de compra foi corroído pela inflação mais alta das Américas e uma das maiores do mundo.
O país – que tem a maior reserva de petróleo já descoberta no planeta – vive uma contradição: não consegue sair da longa crise econômica nem com o aumento da cotação do barril no mercado internacional, provocado pela guerra na Ucrânia.
E a questão política é o fator fundamental para isso. Os governos de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro apostaram em medidas populistas e autoritárias, como a ameaça de dissolução do Assembleia Nacional e o controle de preços. Não houve investimento em outros setores, principalmente no industrial.
“Perseguição à empresas privadas, então isso desestimula o investimento. Então você tem uma situação de um desastre econômico tamanho que é uma coisa inédita no país em paz, né, quer dizer, um país que não esteja em guerra”, afirmou o professor Carlos Gustavo Poggio.
Chávez cerceou o direito da imprensa livre – inclusive não renovando a concessão do maior canal de televisão da Venezuela – e dificultou a vida da oposição, com ações judiciais.
Na economia, obrigou as multinacionais a entregar parte do controle das empresas ao Estado.
Nicolás Maduro, assumiu a presidência depois da morte de Chávez, em 2013. Foi reeleito em 2020, com eleições questionadas por vários países do chamado Grupo de Lima, incluindo o Brasil, que reclamaram da falta de garantias mínimas de um processo democrático.
Maduro manteve a fórmula do governo: pouco espaço para a oposição na política. E aumentou ainda mais a perseguição à imprensa.
Só neste ano, o governo fez pressão para o fechamento de sete veículos de comunicação.
“O Maduro ele acaba apostando em algumas ferramentas que foram as que justamente aquelas que contribuíram para o desastre da economia venezuelana, né? Você coloca cada vez mais o setor de petróleo totalmente no centro da economia do país ao invés de tentar buscar uma diversificação”, explicou Poggio.
Resultado de tudo isso: em 2019, com o auge da crise da fome no país, a Organização Internacional para as Migrações alertou para a pior crise de refugiados já vista na América do Sul: 4,5 milhões de venezuelanos deixaram o país, o que, na época, representava pouco mais de 16% da população.
A revolta tinha dois principais motivos: a desvalorização da moeda nacional, o bolívar, que perdeu 14 zeros desde 2008, e a escassez de produtos básicos nas prateleiras.
Com a economia definhando, as multinacionais saíram em peso, abrindo caminho para pequenos empreendedores.
Eu conversei com um deles, Isaac Delgado, que pertence a uma seleta lista de microempresários que resistiu à onda de falências.
Dono de duas pequenas fábricas – uma que produz roupas e a outra plásticos – ele sofre com o grande vilão de todo país em crise financeira: o aumento de impostos.
“Temos impostos… E materiais em dólar… Coisas que temos de somar ao custo. Estamos chegando a um ponto em que os impostos estão exageradamente elevados para qualidade de economia que temos, agora”, afirmou Delgado.
Em 2021, a inflação chegou a quase 700% (686,4%), de acordo com dados oficiais.
E a previsão do FMI, o Fundo Monetário Internacional, é de que feche 2022 em 500%. Uma pequena melhora que ainda não alivia o bolso da população.
Fonte: cnnbrasil.com.br