Sigla que já teve ampla bancada na AL, governador e prefeito na Capital, hoje patina com um deputado
MidiaNews
O analista político Alfredo da Mota Menezes, avalia a história do PSDB em Mato Grosso
Na década de 1990, o PSDB vivia o ápice do poder. Com o então presidente Fernando Henrique Cardoso eleito – e reeleito –, a “onda tucana” tomou conta do país, e em Mato Grosso não foi diferente.
Eleito pelo PDT em 1994, Dante de Oliveira se uniu ao tucanato no segundo ano de mandato e levou consigo uma horda de prefeitos e vereadores. Quando disputou e venceu a reeleição, em 1998, viu o PSDB conquistar seis cadeiras no Parlamento Estadual e três na Câmara Federal, além da única vaga disponível no Senado naquele pleito.
Em Cuiabá, Roberto França estava à frente do Palácio Alencastro pelo PSDB desde 1996 – já tendo recebido a gestão das mãos de José Meirelles, também tucano, que foi vice de Dante e assumiu o Município em 1994, quando o então prefeito disputou e conquistou o Governo do Estado.
Hoje, 24 anos depois da ascensão no Estado, o PSDB, a exemplo do que ocorre nacionalmente, vive uma crise de existência, com apenas um deputado estadual com mandato e “patinando” para conseguir manter essa única cadeira nas eleições de outubro.
Na visão do analista político e também um dos fundadores do partido em Mato Grosso, Alfredo da Mota Menezes, o início da derrocada foi no início do ano 2000, quando o partido pegou uma sucessão de infortúnios.
O ex-governador Dante de Oliveira: migração para o PSDB marcou ápice do poder dos tucanos no Estado
A queda começou com uma “traição” dentro do grupo – o que provocou um racha na legenda –, seguida pela morte de Dante e derrotas nas disputas ao Governo do Estado e ao Senado.
Apogeu e início da queda
A partir da entrada de Dante no PSDB, os tucanos de Mato Grosso se viram no “apogeu”.
“O PSDB tinha um presidente da República, o governador do Estado, o prefeito da Capital e vários vereadores e prefeituras no interior. O partido cresceu muito, era o maior do Estado, sem dúvida nenhuma”, afirmou Alfredo.
A força política se refletiu em 1998, quando os tucanos fizeram as maiores bancadas na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal, além de elegerem Antero Paes de Barros ao Senado.
No entanto, nas eleições estaduais de 2002, o partido sofre o primeiro golpe.
“No meio do mandato, em 2002, o Antero sai candidato a governador, com o apoio do Dante. E o Dante, sai a senador. Mas o Dante perde para a Serys [Slhessarenko]. E o Blairo [Maggi, então do PPS] ganha”, relembrou.
A derrota dupla, porém, foi consequência já de um racha interno no ninho tucano. Isso porque, em agosto de 2001, Roberto França anunciou a sua saída do partido, descontente por não ser o escolhido do grupo para concorrer ao Palácio Paiaguás.
Na época, França salientou que estava sendo “tirado” do PSDB, porque haveria um acordo de que o grupo o apoiaria nas eleições estaduais caso ele fosse reeleito prefeito de Cuiabá – o que ocorreu no pleito do ano 2000.
“Houve uma disputa interna no PSDB sobre quem seria o candidato: o Antero ou o Roberto França. Roberto tinha sido reeleito e estava bem popularmente falando. Mas tinham dois grupos dentro do partido e o Dante ficou do lado do grupo do Antero”, afirmou.
Roberto tinha sido reeleito e estava bem popularmente falando. Mas tinham dois grupos dentro do partido e o Dante ficou do lado do grupo do Antero
“O Roberto, entre outros motivos, mas esse é o principal, não muito depois vai romper com o Dante e o PSDB. Tanto é verdade que vai ajudar na eleição do Blairo, e a esposa dele, a Iraci, vira vice do Blairo”, completou Alfredo.
O analista salientou que, quando as pesquisas mostraram que Blairo já tinha passado Antero na corrida pelo Paiaguás, em meados de agosto de 2002, um grupo da direita resolveu se unir para dar o “golpe final” e ajudar Serys – que já contava com a “onda Lula” no pleito – a derrotar Dante na disputa ao Senado.
“Ninguém era petista, mas era preferível eleger a Serys do que deixar o Dante vencer e se tornar o cacique do outro lado. Porque se o Dante vence para o Senado e o Blairo vence no Governo, seriam duas lideranças, dois grupos fortes”, disse.
Alfredo afirmou que houve muita especulação entre os tucanos após a derrota no Estado. Eles se questionavam – e ainda se questionam – se o resultado poderia ter sido diferente caso tivessem se mantido ao lado de França e o projetado como o adversário de Blairo, em 2002.
“Tem muitas perguntas sobre aquele episódio, mas a mais interessante delas é: se o Roberto sai candidato, sem racha, Blairo ganharia? Difícil. Ele criou uma liderança por muito tempo em cima de uma barbeiragem política de um grupo”, avaliou Alfredo.
Golpe final
O analista político pontuou que, quatro anos depois, já um pouco enfraquecido, os tucanos voltam a tentar assegurar o Governo do Estado e amargam mais uma derrota.
“Em 2006, o Antero, ainda senador e no final do mandato, volta a peitar o Blairo, que sai à reeleição. O Blairo ganha”, disse.
A derrota no pleito ocorreu meses depois da morte de Dante, em julho daquele ano. O ex-governador ainda era a figura central do partido no Estado e tinha planos de sair candidato a deputado federal naquele pleito.
Com duas derrotas do PSDB para o Governo do Estado, mais a morte do Dante, começou a queda do partido. E foi aumentando cada dia mais
“E eu acho que ganharia. E com essa vitória, o PSDB teria se segurado. Mas com duas derrotas do PSDB para o Governo do Estado, mais a morte do Dante, ficou um grupo só no Estado – sob liderança do Blairo – e começou a queda do partido. E foi aumentando cada dia mais”, afirmou Alfredo.
Cenário nacional e estadual
Para a Presidência da República, após a saída de FHC, o PSDB se viu apenas batendo na trave por quatro pleitos consecutivos com os candidatos José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin – sendo que este último migrou para o PSB este ano para se tornar vice na chapa do seu antigo adversário político, Lula (PT), que em 2022 tenta voltar ao Palácio do Planalto.
Em 2018, o PSDB teve seu pior desempenho desde Mário Covas, em 1989, amargando o 4º lugar na disputa presidencial com Alckmin como candidato. Este ano, insiste na pré-candidatura do governador de São Paulo, João Doria, que não parece ter condições de alavancar.
No Estado, após as duas derrotas de Antero, os tucanos se viram terminando a disputa para o Governo do Estado em terceiro lugar em 2010 – quando Wilson Santos renunciou ao cargo de prefeito de Cuiabá no seu segundo mandato para enfrentar o pleito – e nem mesmo tiveram candidatos próprio em 2014, apenas participando da coligação que elegeu Pedro Taques, na época do PDT.
Quando Taques foi candidato ao Paiaguás em 2018, já filiado ao PSDB, conseguiu um feito inesperado para um governador buscando a reeleição: terminar o pleito amargando o terceiro lugar.
No Senado, o desempenho tucano seguiu caindo. Em 2010, quando duas vagas estavam disponíveis, Antero terminou em 4º lugar na disputa. Em 2014, Rogério Salles bateu na trave e ficou em 2º lugar – e apenas uma cadeira estava vaga.
Este ano, um dos desafios do PSDB é manter a única vaga que possui na ALMT
Quatro anos depois, a sigla ficou com o 5º lugar – tendo Nilson Leitão como candidato. Quando houve eleições suplementares em 2020, mais um fracasso.
Nas eleições deste ano, o grupo deve caminhar apoiando a provável candidatura à reeleição do governador Mauro Mendes (União Brasil). Na Câmara Federal, não tem representantes desde a última eleição e sofre pressão para conseguir eleger ao menos um no pleito de outubro deste ano.
Na Assembleia Legislativa, após uma sequência de longas bancadas nas eleições de 1998 e 2002, caiu para dois representantes em 2006 e “segurou com as unhas” uma única vaga em 2010.
Em 2014, o resultado melhorou: foram três cadeiras conquistadas. Em 2018, perdeu uma vaga e elegeu apenas dois.
Mas, com a saída de Wilson Santos da legenda após anúncio da federação com o Cidadania, conta com apenas uma cadeira no Parlamento, ocupada atualmente pelo presidente estadual do partido, Carlos Avallone, que não possui um cenário fácil à frente para tentar se reeleger.
Fonte: midianews.com.br