A solidão está se tornando um problema cada vez mais sério na Alemanha e já afeta quase seis em cada dez pessoas no país, aponta uma nova pesquisa realizada por uma das maiores seguradoras do sistema público de saúde.
Ao todo, 57% dos alemães relataram se sentir sozinhos com frequência (4%), ocasionalmente (13%) ou raramente (41%), afirma a Techniker Krankenkasse (TK) em estudo apresentado nesta quarta-feira (11/12).
Esse índice é ainda maior entre pessoas com idade entre 18 e 39 anos, chegando a 68%, sendo que 36% nessa faixa etária relataram sofrer especialmente com a solidão, enquanto esse índice foi de 19% e 21% para as faixas etárias de 40 a 59 anos e acima dos 60 anos, respectivamente.
Solteiros também têm três vezes mais probabilidade de se sentirem sós do que aqueles que estão em relacionamentos. Enquanto 33% deles afirmaram sofrer bastante com o problema, esse índice foi de 22% para pessoas em relacionamentos estáveis.
A pesquisa é baseada em uma sondagem representativa feita por telefone com 1.403 pessoas em maio deste ano.
Por que as pessoas se sentem sozinhas
O estudo conclui que escolaridade, trabalho, tamanho da cidade em que se vive e gênero não sao fatores relevantes para determinar se alguém se sente ou não sozinho. O que pesa é, sim, a vida amorosa e o círculo social, sendo que pessoas solteiras mais velhas estão expostas a um risco maior de solidão que seus pares solteiros mais jovens.
Os pesquisadores também apontam que a pobreza relativa aumenta as chances de ocorrência do fenômeno. O mesmo vale para grandes mudanças de vida, como perder o emprego ou o parceiro por separação ou morte.
Sociólogo que trabalha para uma rede contra a solidão financiada pelo governo, Janosch Schobin pontua que a sensação de solidão está frequentemente associada a mudanças de vida que são mais comuns no início da vida adulta: a saída de casa, a mudança para uma nova cidade ou a troca de emprego.
Solidão ainda é um tabu entre homens
Outra conclusão do estudo é que a solidão segue sendo um tabu, principalmente entre os homens. Só 22% dos que relataram se sentir sós disseram ter conversado sobre o problema com outras pessoas – entre as mulheres, essa taxa foi de 40%.
A maioria justificou esse silêncio afirmando “não querer sobrecarregar outros” (58%) ou dizendo achar que falar sobre o problema não faria diferença (54%); para 29%, falar sobre o assunto é “desconfortável”; outros 9% disseram não ter ninguém para desabafar – neste caso, participantes podiam apontar múltiplas respostas.
Solidão é um problema de saúde
A solidão é associada a uma série de males físicos e psíquicos. Dentre os que se disseram afetados pelo problema, 23% relataram má saúde; entre os que não se sentiam sós, esse índice era de 13%.
“A solidão é uma via de mão dupla. Ela pode ser desencadeada por doenças, mas também pode favorecer o surgimento de doenças físicas e psíquicas”, afirma Schobin no estudo. “Muitas doenças poderiam ser evitadas sem solidão.”
Problemas de saúde podem levar à solidão caso limitações individuais, como aquelas causadas por alguma deficiência ou fases depressivas, tornem a comunicação com outros mais difícil.
A solidão também parece pesar sobre o psicológico: sintomas como estresse e exaustão, cansaço, depressão, problemas para dormir e ansiedade ocorrem com muito mais frequência em pessoas solitárias.
“A solidão pode levar a males físicos também. Isso já não é mais uma teoria. Foi provado”, disse Jens Baas, chefe da TK, durante a apresentação do estudo em Berlim. Segundo Baas, pessoas solitárias têm maior risco de desenvolver demência.
Outros males associados à solidão são dores nas costas e no estômago, dificuldades para respirar e asma.
O elo exato entre a solidão e problemas de saúde, contudo, ainda é um mistério para a ciência.
“Seria legal se pudéssemos explicar a conexão, mas não é tão fácil”, disse Baas. “Na ciência, podemos ver que há uma conexão clara entre o corpo e a alma. Vemos isso em muitas doenças, mas não sabemos como isso funciona fisiologicamente.”
Fonte: dw.com.br