Há 126 anos, em 19 de junho de 1898, Afonso Segreto, um italiano radicado no Brasil, registrou as primeiras imagens do país, estabelecendo 19 de junho como o Dia do Cinema Brasileiro. O Ministério da Cultura (MinC) comemora a data destacando as conquistas e ações para o fortalecimento do audiovisual.
“Hoje é dia de celebrar o cinema nacional e também um ano e meio de construção de uma política pública feita com compromisso, afeto e muita determinação. Estamos construindo um audiovisual para um Brasil que seja amplo, e trilhe um caminho em que a coexistência de telas, atores e modos de fazer audiovisual seja a premissa principal e chegue para todos, e que tenhamos telas de todos os Brasis, para todos os Brasis”, declara a secretária do Audiovisual, Joelma Gonzaga.
Editais e fomento
Desde 2023, a Secretaria do Audiovisual (SAV) promoveu várias chamadas públicas:
* Três para produção de curtas-metragens.
* Duas de intercâmbio para formação e circulação no exterior.
* Uma para curtas-metragens resultantes de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs).
No total, foram aprovados 100 projetos com um investimento de R$ 6,1 milhões. Em parceria com a Ancine, a SAV lançou o Edital Ruth de Souza, com R$ 36 milhões destinados à produção de longas-metragens de ficção dirigidos por mulheres cis ou transgênero estreantes, selecionando 18 projetos.
Incentivo fiscal e investimentos
A Lei Rouanet desempenhou um papel fundamental, com 1.088 projetos aprovados, totalizando R$ 971,5 milhões em 2023 e 2024. A captação de recursos para projetos audiovisuais atingiu R$ 146,6 milhões.
De acordo com a Ancine, o ano de 2023 registrou investimento de R$ 1,3 bilhão para a produção de conteúdo nacional, por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Até o momento foram selecionados 364 filmes e séries, apresentados por 323 produtoras brasileiras. Para 2024 estão previstos novos investimentos, no valor de R$ 1,6 bilhão, para a produção de filmes e séries brasileiras, o maior da série histórica.
Entre as ações em andamento, destaca-se o investimento em coproduções internacionais, no valor de R$ 200 milhões, o maior já disponibilizado para a ação, e que recebeu 476 projetos, de 47 países.
“Os avanços do setor em 2023 e 2024 são visíveis e expressivos. São claros os três eixos da política pública de desenvolvimento do audiovisual brasileiro: investimentos na produção independente e na retenção de propriedade; financiamento da infraestrutura, da inovação e da qualificação profissional; e estímulo à internacionalização das produções brasileiras”, comenta o diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema, entidade integrante do Sistema MinC, Alex Braga.
E completa: “O ano passado registrou o maior investimento da série histórica do FSA, o maior orçamento e a maior execução financeira do Fundo, além disso, todos os recursos antes contingenciados foram revertidos para o setor pela Lei Paulo Gustavo. E 2024 acompanha esse novo ciclo de investimentos, que impulsionam a atividade positivamente”.
Linhas de crédito e infraestrutura
Em 2023, foram disponibilizados R$ 537 milhões em crédito para projetos de infraestrutura, construção de estúdios e inovação. Entre os projetos, destaca-se o Estúdios RIO, com a construção de oito novos estúdios e modernização de outros oito, criando 7.800 empregos. Além disso, houve financiamento para construção de 122 salas de exibição e modernização de mais 52.
Para 2024, novas linhas de crédito de R$ 400 milhões estão aprovadas, focando em inovação, acessibilidade e expansão do parque exibidor, especialmente em regiões fora do eixo Rio/São Paulo.
Uma linha de crédito emergencial de R$ 75 milhões foi aprovada para empresas do setor audiovisual no Rio Grande do Sul. Além disso, houve extensão do prazo de carência e amortização de créditos por 12 meses
LPG
No Rio de Janeiro, o CineCarioca Penha, fechado desde 2006, reabrirá no final de junho com um investimento de R$ 1,2 milhão, viabilizado pelo edital Viva o Cinema II da RioFilme, com recursos da Lei Paulo Gustavo (LPG). “Precisamos expandir cultura a da sétima arte. O cinema quebra paradigmas, cria sonhos”, justifica o diretor-geral da GW Cinemas, que administra o local, Wellington Luz.
Ele lembra que antes da pandemia o parque exibidor brasileiro tinha cerca de 4.200 salas e fechou o ano passado com pouco mais de 3.400. “É fundamental mantermos essa pegada, com a Lei Paulo Gustavo, para abrirmos mais cinemas, levando cultura à população”.
O espaço, em uma galeria comercial, tem duas salas, totalizando 280 lugares, e irá dispor de novos equipamentos de projeção, som e mobiliário e terá ingressos em torno de R$ 15.
Crescimento do setor
Em 2023, 161 longas-metragens nacionais e 254 estrangeiros estrearam nos cinemas brasileiros, um total de 415 estreias – 8% superior ao ano anterior. A participação de mercado do filme nacional foi de 3,2% do público (3,6 milhões de espectadores), de acordo com o informe 2023 do mercado cinematográfico da Ancine.
“Existe uma curva de crescimento do setor, que impacta na geração de emprego e renda, mas principalmente na sensação de pertencimento e bem-estar da sociedade, que retoma o consumo dos bens culturais”, finaliza Alex Braga
Difusão internacional
Desde o ano passado, a partir da presença no American Film Market, uma das maiores feiras da indústria cinematográfica do mundo, em Los Angeles, o MinC retomou a presença do audiovisual brasileiro em eventos internacionais. No 77º Festival de Cinema de Cannes, em maio, a SAV participou da promoção da produção brasileira, que contou com seis filmes na vitrine do cinema mundial.
“A forte presença de representantes de diferentes órgãos governamentais no evento não passou despercebida, seja pelos organizadores, pela imprensa ou pelas mais importantes empresas do mundo. Todos notaram, e uma das frases que mais ouvi este ano foi ‘Brazil is back’! [O Brasil está de volta!]. Do ponto de vista simbólico, isso fortalece enormemente a capacidade do país de influenciar outros países por meios culturais, ideológicos e diplomáticos”, destaca Ivan Melo, sócio-fundador da Cup Filmes e produtor de “Baby”, um dos títulos brasileiros presentes no festival.
O longa-metragem dirigido por Marcelo Caetano conquistou o prêmio de melhor ator revelação para Ricardo Teodoro na prestigiada Semana da Crítica e deverá ser lançado nas salas brasileiras ainda este ano. “O filme já foi negociado para ser distribuído comercialmente em mais de 15 países, além de estar recebendo convites para participar dos mais importantes festivais de cinema do mundo. Tenho convicção em afirmar que isso é resultado de esforços variados. Estivemos fortemente presentes no evento, em publicações, no estande do Cinema do Brasil, nas falas da SAV, nos encontros com representantes de outros governos, e no esforço conjunto de quem nos ajudou a levar representantes do filme para Cannes. Tudo isso ajuda e influencia”, acredita Melo.
“Podemos melhorar? Obviamente que sim. Se um filme consegue a façanha de ser selecionado para um festival da dimensão de Cannes, ele precisa contar com algum investimento automático que reforce sua presença em meio a tantas outras obras incríveis vindas de todo o mundo. Mas acho que estamos no caminho certo. A força do cinema brasileiro está justamente na sua diversidade, na sua criatividade, que não está concentrada em um único lugar ou em uma única mão. Quanto menos concentrado for o investimento, maior será nossa presença mundo afora. É isso que vai nos fortalecer”, conclui.
Em abril, o Ministério participou do 14º Festival Internacional de Cinema de Pequim (BJIFF). No ano que marca as cinco décadas de relações diplomáticas entre Brasil e China, o país foi o convidado de honra do evento e teve quatro produções exibidas em mostra paralela. “É importante o governo brasileiro ser interlocutor com o governo chinês, que apoia a indústria local, com estúdios e infraestrutura. A China está interessada em conhecer mais do Brasil. Hoje, o mercado chinês tem o triplo do tamanho do americano, sendo um grande fornecedor de filmes no mundo. É fácil prever que as produções chinesas irão aumentar a sua presença no mundo e abrir oportunidades para os filmes brasileiros naquele país”, avalia Nelson Sato, presidente da distribuidora de filmes Sato Company, que integrou a comitiva brasileira no festival
Preservação
A Cinemateca Brasileira, em São Paulo, que abriga a história do audiovisual no país, restaurou, catalogou e digitalizou cerca de 1.700 títulos de seu acervo graças ao projeto Nitratos.
O título da iniciativa faz referência ao nitrato de celulose, película utilizada no mundo para se fazer filmes até o início dos anos 1950 e altamente inflamável, pois pode entrar em autocombustão. “Pela primeira vez na história da instituição, conseguimos os recursos para fazer esse trabalho, que é técnico e exige muito cuidado”, conta Dora Mourão, diretora-geral da Cinemateca Brasileira, lembrando que dos cinco incêndios que a Cinemateca sofreu, quatro foram causados pelo nitrato.
Durante a análise do material, foi encontrado o filme mais antigo do acervo, um documentário de 1909 sobre a inauguração de uma igreja em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. “O projeto trouxe à luz uma parte da história deste país que estava escondida, e isso para a cultura é fundamental. Se educação e cultura andam juntas, história e cultura também. Para uma sociedade conhecer o seu passado é fundamental para ela ter uma relação diferente com o presente, para entendê-lo conhecendo o passado. A memória é isso. Ter esse passado trazido para os dias atuais a fim de que as pessoas possam aprender com ele”.
Os filmes estarão disponíveis gratuitamente para acesso do público no site da Cinemateca Brasileira e no Banco de Conteúdos Culturais (BCC).
O investimento é de cerca de R$ 15 milhões via Lei Rouanet, com patrocínio do Instituto Cultural Vale, da Shell e copatrocínio do Itaú.
A ação faz parte do projeto Viva Cinemateca, lançado em 2023, que tem como objetivo a preservação de acervos e coleções da instituição – entre eles, os filmes em nitrato de celulose já recuperados e o acervo do Canal 100, próxima iniciativa da instituição.
A Cinemateca Brasileira foi fundada em 1956 e possui o maior acervo audiovisual da América Latina. Sua coleção tem cerca de 40 mil títulos e mais de 1 milhão de documentos – entre cartazes, roteiros e livros – referentes à produção cinematográfica.
Fonte: www.gov.br