Cerca de um milhão de pessoas fugiram da cidade de Rafah, em Gaza, nas últimas três semanas, informou nesta terça-feira (28/05) a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA).
Sob ataque terrestre das forças israelenses desde o início deste mês, a pequena cidade no extremo sul da Faixa de Gaza estava abrigando mais de um milhão de palestinos que fugiram dos ataques israelenses em outras partes do exclave.
Os militares israelenses estão realizando o que dizem ser uma “operação limitada” em Rafah para matar combatentes e desmantelar a infraestrutura usada pelo Hamas, que administra Gaza. O governo israelense disse aos civis para eles irem para uma “zona humanitária ampliada” a cerca de 20 quilômetros de distância.
Muitos palestinos reclamam que estão vulneráveis a ataques israelenses onde quer que vão e têm se deslocado para cima e para baixo na Faixa de Gaza nos últimos meses.
A UNRWA disse que a fuga de Rafah vem ocorrendo “sem nenhum lugar seguro para ir e em meio a bombardeios, falta de comida e água, pilhas de lixo e condições de vida inadequadas”.
Fuga entre bombas e tanques
Centenas se arriscam nas estradas de Rafah, fugindo da expansão do ataque terrestre de Israel, com mais bombardeios, tanques no centro da cidade e militares posicionados em terrenos mais altos.
“Estamos em pânico e com medo”, disse à agência de notícias AFP Ihab Zorob, de 40 anos, do oeste de Rafah. “Nossos filhos e esposas não param de chorar. Os bombardeios na noite passada e durante toda a manhã foram intensos e severos”, afirmou. “Ver as pessoas fugindo nos deixou com mais medo, por isso decidimos procurar abrigo em Al-Mawasi (na costa). Espero que encontremos espaço por lá.”
Nesta terça-feira, repórteres da AFP viram pessoas carregando os pertences que podiam enquanto fugiam de Tal al-Sultan, no oeste de Rafah, onde um ataque no domingo que, segundo Israel, tinha como alvo o Hamas, matou 45 pessoas, de acordo com autoridades palestinas.
Os mais afortunados transportavam pilhas de colchões e cobertores e dezenas de crianças na traseira de caminhões, enquanto outros carregavam o que puderam em sacos de lixo ou caminhavam com colchões enrolados na cabeça.
Na cidade vizinha de Khan Yunis, no sul do país, os repórteres da AFP viram pilhas de travesseiros, colchões e sacos de roupas cobrindo uma área arenosa para onde as pessoas que fugiam de Khan Yunis estavam sendo levadas.
“Drones atacam qualquer um que se mova”
Yasser Adwan, um morador de 22 anos do oeste de Rafah, disse que “os drones israelenses atacavam qualquer pessoa que se mova ou ande pelas ruas de Rafah”.
Ele relatou que várias vítimas foram “deixadas deitadas na rua” porque as equipes de defesa civil não puderam retirá-las por medo de serem elas mesmas alvejadas.
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, administrada pelo Hamas, disse em comunicado que os bombardeios israelenses dentro e ao redor das instalações de saúde na província deixaram apenas uma ainda em funcionamento.
Apenas o Hospital Maternidade Tal Al-Sultan ainda estaria “tentando continuar prestando serviços aos pacientes na província de Rafah”.
Várias testemunhas relataram que tanques israelenses se posicionaram em uma colina em Tal Zorob, perto da fronteira com o Egito.
Os militares de Israel disseram em um comunicado que suas forças realizaram operações no Corredor Philadelphi, uma faixa de terra ao longo da fronteira egípcia e perto de Tal Zorob, na noite de segunda-feira.
O governo disse que eles estavam “conduzindo atividades operacionais precisas com base em informações de inteligência que indicavam a presença de alvos terroristas na área”.
A agência de defesa civil de Gaza relatou as dificuldades enfrentadas pelas equipes de ambulância para chegar às “casas sitiadas e evacuar os feridos” na vizinha Praça Zorob, principalmente devido a “drones quadricópteros” israelenses que teriam atacado as equipes em três ocasiões.
Uma fonte de segurança de Gaza disse à AFP nesta terça-feira que tanques israelenses também chegaram à “área central de Rafah”.
Fonte: dw.com